Uma grande festa irá reunir, na próxima terça-feira, dia 14 de setembro, no Moinho Santo Antônio, em São Paulo, grandes criadores de cavalos árabes, empresários e celebridades do mundo artístico e esportivo. Lá estará acontecendo o Leilão HBV & Amigos, promovido por Verinha e Luciano Cury, sob a chancela da Associação Brasileira dos Criadores do cavalo Árabe (ABCCA), por ele presidida.
Trata-se de um importante momento para a história da criação de cavalos árabes que oferece, em leilões como esse, oportunidade de excelentes e lucrativos negócios. "Hoje, a criação de árabes tornou-se acessível a qualquer investidor, proprietários ou não de terras", declara Luciano Cury. Segundo ele, nos últimos anos surgiram vários centros, que se encarregam de cuidar dos animais e, ainda, de prepará-los para participar de exposições e competições. É nessas ocasiões que os cavalos têm a oportunidade de desfilar a sua beleza, demonstrar sua versatilidade e de obter premiações que contam pontos para a sua maior valorização. Altamente qualificados, os centros estimulam brasileiros e estrangeiros, principalmente dos EUA, a confiarem na criação de cavalos importantes e valiosos. "Você pode investir em cavalos árabes sem ter que investir em terras", ressalta Cury.
Para se ter uma idéia do quanto pode representar um investimento em um exemplar da raça árabe, no início deste ano um reprodutor foi negociado por um comprador internacional por mais de R$ 700 mil, o que demonstra ser esse um excelente negócio.
Prova disso é a presença de mais de mil pessoas que irão comparecer ao leilão da próxima semana, quando serão oferecidos 29 animais de qualidade, alguns até premiados, por preços acessíveis e facilidade de pagamento.
A participação no leilão HBV & Amigos é aberta aos interessados que deverão obrigatoriamente fazer suas reservas na Djalma Leilões pelo telefone 11 3815.4949. O valor é de R$ 30,00 por pessoa e a renda será destinada ao Projeto Social de Equitação desenvolvido pelo Haras Bagdá com crianças carentes do litoral sul de São Paulo.
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segunda-feira, setembro 13, 2004
Governo anuncia seguro inédito para pequenos produtores
O Seguro da Agricultura Familiar vai beneficiar 850 mil agricultores, garantindo a quitação integral do financiamento mais uma renda de até R$ 1.800,00 para quem perder a produção. Na solenidade do anúncio, o presidente Lula ressaltou a importância da intervenção do Estado para proteger os mais fracos das perversidades do mercado.
Em junho, o Estado de Rondônia produziu uma safra de 44 mil toneladas de feijão. O excesso de oferta do produto despertou a ganância dos atravessadores, que derrubaram a cotação para R$ 25,00 a R$ 28,00 a saca de 30 quilos. O governo federal interviu, autorizando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) comprar diretamente a produção, por intermédio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, pagando R$ 60,00 a saca. Em dois meses, foram adquiridas 11 mil toneladas de feijão, beneficiando mais de 5 mil famílias de pequenos agricultores. O mercado se ajustou à lógica imposta pela Conab e os compradores passaram a pagar R$ 50,00 pela saca, restabelecendo um equilíbrio no mercado de feijão de Rondônia.
O caso foi lembrado nesta sexta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na solenidade de lançamento do Seguro da Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto. O exemplo foi usado para mostrar que o Estado brasileiro e suas instituições têm um papel importante a desempenhar na sociedade para evitar que os mais fracos sejam sufocados pelo poder econômico dos mais fortes. “Não é o Estado tentar substituir o mercado, mas é o Estado evitar que o mercado, por si só, sufoque aqueles que, dentro do mercado, são mais frágeis, são mais fracos e têm menos poder de barganha”, explicou Lula, assinalando a concepção que diferencia o governo petista do antecessor, marcado por um viés mais liberal. “E agora, com o seguro agrícola, nós estamos dando um outro passo importante”, anunciou o presidente.
Os Seguro da Agricultura Familiar é uma reivindicação antiga dos pequenos produtores, que há 30 anos cobram um mecanismo de proteção para o caso da lavoura ser atingida por intempéries. A falta dessa proteção deixa o agricultor exposto ao risco de entrar em uma espiral de decadência. Ao perder a lavoura por alguma fatalidade, ele não tem renda para pagar o financiamento. Inadimplente, não tem como custear nova safra para gerar renda e pagar as dívidas. Fica muito difícil sair desse buraco, por mais honesto e trabalhador que seja o produtor familiar. “São homens e mulheres sérios, que vendem a vaca de tirar o leite dos filhos para pagar o banco”, observou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Manoel dos Santos.
O Cerimonial do Palácio do Planalto não havia previsto o discurso do presidente da Contag na solenidade, mas o presidente Lula fez questão de dar-lhe a palavra, como representante dos produtores beneficiados pelo programa. Manoel dos Santos disse que o governo está no caminho certo, mas colocou um peso maior na ressalva do que ainda falta fazer do que no agradecimento pelo passo dado com o Seguro da Agricultura Familiar. “Mais de 70% dos agricultores familiares, por razões diversas, não têm acesso ao crédito”, cobrou o presidente da Contag.
O presidente Lula não deixou a provocação passar em branco. Disse que o movimento sindical e as organizações de trabalhadores na agricultura familiar precisam ensinar e organizar os produtores para buscarem o financiamento nos bancos, pois os recursos disponibilizados não estão sendo totalmente utilizados. Na safra 2002/2003, os pequenos agricultores só tomaram emprestado R$ 2,2 bilhões dos R$ 4 bilhões liberados. Na safra seguinte, o aproveitamento foi maior. Dos R$ 5,4 bilhões disponibilizados pelo o Banco do Brasil, R$ 4,5 bilhões chegaram aos produtores da agricultura familiar.
Sem risco de quebrar o sistema
Lula ressaltou que, mesmo sem ter aproveitamento integral, o governo ampliou o volume de recursos para R$ 7 bilhões na safra iniciada em agosto. E poderá liberar mais se faltar dinheiro, porque “o companheiro Palocci tem um coração enorme”. “Cada sindicado precisa comunicar a cada associado seu de que precisa ir buscar o dinheiro do Pronaf, porque a tendência natural de quem guarda dinheiro é o seguinte: ‘bom, se eu tinha sete e não apareceram sete, só cinco, para que eu vou colocar sete outra vez? Eu vou baixar para seis’”, ponderou o presidente, ressaltando a importância de se expandir o crédito para a agricultura familiar conjugado com o Seguro, de modo a construir um sistema sólido de financiamento rural “sem risco de quebrar”.
Exaustivamente negociado entre os Ministérios da Fazenda e Desenvolvimento Agrário, o Seguro da Agricultura Familiar tem duas inovações importantes em relação ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) tradicional. A cobertura passa de 70% para 100% do financiamento nas operações de custeio agrícola – o seguro anterior poderia chegar a 100% só após quatro safras seguradas sem perdas. Na nova modalidade, o produtor terá direito a uma garantia adicional de 65% (limitados a R$ 1.800,00) da receita líquida estimada da comercialização da colheita (o lucro após o pagamento do empréstimo). É o reembolso do trabalho perdido caso a lavoura seja atingida por seca, granizo, geada, tromba d´água, vendaval, chuvas fora de época, além de pragas e doenças que não têm método de controle difundido.
Para ter direito ao Seguro, o produtor terá de pagar 2% do valor do crédito recebido. A adesão é obrigatória para as chamadas culturas zoneadas (algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo, sorgo e maça) e para o custeio das plantações de banana, caju, mandioca, mamona e uva. O governo espera garantir a produção de 850 mil agricultores – uma cobertura de 95% de todo o crédito de custeio que costuma ser concedido ao amparo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Mais do que uma política de crédito forte e permanente, estamos implementando uma estratégia de desenvolvimento rual que olha a agricultura familiar com o compromisso de um desenvolvimento econômico produtivo, gerador de trabalho e emprego para o país e produtor de alimentos com qualidade para o povo", afirmou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, elogiado pelo presidente Lula por dois motivos: pelo entrosamento mantido com todos os segmentos dos trabalhadores rurais e por reconhecer publicamente que o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional estão ficando “mão aberta”.
Fonte: Agência Carta Maior
Em junho, o Estado de Rondônia produziu uma safra de 44 mil toneladas de feijão. O excesso de oferta do produto despertou a ganância dos atravessadores, que derrubaram a cotação para R$ 25,00 a R$ 28,00 a saca de 30 quilos. O governo federal interviu, autorizando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) comprar diretamente a produção, por intermédio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, pagando R$ 60,00 a saca. Em dois meses, foram adquiridas 11 mil toneladas de feijão, beneficiando mais de 5 mil famílias de pequenos agricultores. O mercado se ajustou à lógica imposta pela Conab e os compradores passaram a pagar R$ 50,00 pela saca, restabelecendo um equilíbrio no mercado de feijão de Rondônia.
O caso foi lembrado nesta sexta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na solenidade de lançamento do Seguro da Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto. O exemplo foi usado para mostrar que o Estado brasileiro e suas instituições têm um papel importante a desempenhar na sociedade para evitar que os mais fracos sejam sufocados pelo poder econômico dos mais fortes. “Não é o Estado tentar substituir o mercado, mas é o Estado evitar que o mercado, por si só, sufoque aqueles que, dentro do mercado, são mais frágeis, são mais fracos e têm menos poder de barganha”, explicou Lula, assinalando a concepção que diferencia o governo petista do antecessor, marcado por um viés mais liberal. “E agora, com o seguro agrícola, nós estamos dando um outro passo importante”, anunciou o presidente.
Os Seguro da Agricultura Familiar é uma reivindicação antiga dos pequenos produtores, que há 30 anos cobram um mecanismo de proteção para o caso da lavoura ser atingida por intempéries. A falta dessa proteção deixa o agricultor exposto ao risco de entrar em uma espiral de decadência. Ao perder a lavoura por alguma fatalidade, ele não tem renda para pagar o financiamento. Inadimplente, não tem como custear nova safra para gerar renda e pagar as dívidas. Fica muito difícil sair desse buraco, por mais honesto e trabalhador que seja o produtor familiar. “São homens e mulheres sérios, que vendem a vaca de tirar o leite dos filhos para pagar o banco”, observou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Manoel dos Santos.
O Cerimonial do Palácio do Planalto não havia previsto o discurso do presidente da Contag na solenidade, mas o presidente Lula fez questão de dar-lhe a palavra, como representante dos produtores beneficiados pelo programa. Manoel dos Santos disse que o governo está no caminho certo, mas colocou um peso maior na ressalva do que ainda falta fazer do que no agradecimento pelo passo dado com o Seguro da Agricultura Familiar. “Mais de 70% dos agricultores familiares, por razões diversas, não têm acesso ao crédito”, cobrou o presidente da Contag.
O presidente Lula não deixou a provocação passar em branco. Disse que o movimento sindical e as organizações de trabalhadores na agricultura familiar precisam ensinar e organizar os produtores para buscarem o financiamento nos bancos, pois os recursos disponibilizados não estão sendo totalmente utilizados. Na safra 2002/2003, os pequenos agricultores só tomaram emprestado R$ 2,2 bilhões dos R$ 4 bilhões liberados. Na safra seguinte, o aproveitamento foi maior. Dos R$ 5,4 bilhões disponibilizados pelo o Banco do Brasil, R$ 4,5 bilhões chegaram aos produtores da agricultura familiar.
Sem risco de quebrar o sistema
Lula ressaltou que, mesmo sem ter aproveitamento integral, o governo ampliou o volume de recursos para R$ 7 bilhões na safra iniciada em agosto. E poderá liberar mais se faltar dinheiro, porque “o companheiro Palocci tem um coração enorme”. “Cada sindicado precisa comunicar a cada associado seu de que precisa ir buscar o dinheiro do Pronaf, porque a tendência natural de quem guarda dinheiro é o seguinte: ‘bom, se eu tinha sete e não apareceram sete, só cinco, para que eu vou colocar sete outra vez? Eu vou baixar para seis’”, ponderou o presidente, ressaltando a importância de se expandir o crédito para a agricultura familiar conjugado com o Seguro, de modo a construir um sistema sólido de financiamento rural “sem risco de quebrar”.
Exaustivamente negociado entre os Ministérios da Fazenda e Desenvolvimento Agrário, o Seguro da Agricultura Familiar tem duas inovações importantes em relação ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) tradicional. A cobertura passa de 70% para 100% do financiamento nas operações de custeio agrícola – o seguro anterior poderia chegar a 100% só após quatro safras seguradas sem perdas. Na nova modalidade, o produtor terá direito a uma garantia adicional de 65% (limitados a R$ 1.800,00) da receita líquida estimada da comercialização da colheita (o lucro após o pagamento do empréstimo). É o reembolso do trabalho perdido caso a lavoura seja atingida por seca, granizo, geada, tromba d´água, vendaval, chuvas fora de época, além de pragas e doenças que não têm método de controle difundido.
Para ter direito ao Seguro, o produtor terá de pagar 2% do valor do crédito recebido. A adesão é obrigatória para as chamadas culturas zoneadas (algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo, sorgo e maça) e para o custeio das plantações de banana, caju, mandioca, mamona e uva. O governo espera garantir a produção de 850 mil agricultores – uma cobertura de 95% de todo o crédito de custeio que costuma ser concedido ao amparo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Mais do que uma política de crédito forte e permanente, estamos implementando uma estratégia de desenvolvimento rual que olha a agricultura familiar com o compromisso de um desenvolvimento econômico produtivo, gerador de trabalho e emprego para o país e produtor de alimentos com qualidade para o povo", afirmou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, elogiado pelo presidente Lula por dois motivos: pelo entrosamento mantido com todos os segmentos dos trabalhadores rurais e por reconhecer publicamente que o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional estão ficando “mão aberta”.
Fonte: Agência Carta Maior
Agricultura orgânica, um negócio bilionário
A imagem dos produtos orgânicos, de frutas e legumes saudáveis, mas de má aparência, produzidos apenas por agricultores alternativos, é coisa do passado. Hoje este é o mercado de alimentos que mais cresce no mundo. Só no ano passado, segundo a Federação Internacional de Agricultura Orgânica, foram comercializados US$ 25 bilhões de produtos livres de venenos ou adubos químicos.
O sucesso é explicado pela busca de alimentos mais saudáveis, sem produtos químicos, por um público que valoriza a qualidade de vida e está disposto a pagar até 30% a mais por isso. No Brasil a agricultura orgânica ainda está se estruturando, se comparado a alguns países da Europa onde os orgânicos já ocupam 10% das terras.
Entre os estados brasileiros, o campeão é o Paraná, que responde por 20% da produção orgânica do país. Segundo dados da Secretaria da Agricultura paranaense, são 3.908 produtores, responsáveis por uma colheita agrícola de 52.270 toneladas. E embora o Rio de Janeiro ainda não esteja entre os primeiros na produção, com cerca de 900 famílias envolvidas no setor, já ocupa a segunda posição no consumo, perdendo apenas para São Paulo.
Isso demonstra o vigor desse mercado, que se tornou alternativa para as empresas em um segmento saturado e que busca inovações. Uma das maiores redes de supermercados do Rio, o Zona Sul, vende produtos orgânicos desde 1997. Segundo o diretor comercial da empresa, Jaime Xavier, no início eram oferecidos apenas 10 produtos. Atualmente são mais de 250 itens e a tendência é a oferta aumentar nos próximos anos. "O mercado orgânico vem crescendo anualmente de 30% a 40%. Hoje as maiores oportunidades estão nos segmentos de carnes, cereais matinais, frutas e cosméticos", aponta Xavier.
Seguindo a tendência, um grupo de criadores de Mato Grosso decidiu apostar no boi orgânico. Os animais são alimentados com pasto sem adubação, não recebem antibióticos e são tratados com homeopatia, tudo para agradar consumidores exigentes. "A demanda é maior que a oferta", comemora Henrique Balbino, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Animais Orgânicos.
Embora o tempo de engorda seja maior (30 meses, contra 24 da criação convencional), o produto alcança um preço 7% maior. Mas segundo Balbino, o principal retorno não é o lucro: "O maior benefício é saber que estamos fazendo a coisa certa, preservando a natureza e garantindo mais qualidade de vida".
Filosofia de vida incentivou indústria
Para alguns empresários, o mercado orgânico tem relação com suas próprias vidas. O casal Paulo e Paula Savino, donos da Ecobras, descobriram a alimentação natural na década de 80, quando participavam de movimentos alternativos. Foi em uma comunidade na Califórnia, onde moraram por quatro anos, que eles descobriram as técnicas da produção sem agrotóxicos ou adubos químicos.
Na volta ao Brasil, decidiram aplicar aqui o que aprenderam com os americanos. Abriram uma pousada em Nova Friburgo, na Serra, onde alimentavam os hóspedes só com produtos naturais. A idéia deu tão certo que eles perceberam a existência de mercado para a produção orgânica. Abandonaram o projeto da pousada e decidiram abrir uma pequena indústria. Se mudaram para a região de Guaratiba, zona Oeste do Rio, e em 1998 iniciaram a produção de tofu, como é chamado o queijo de soja.
"Tudo partiu de uma reflexão existencial sobre a busca de uma vida mais saudável", lembra Paulo, que na época trabalhava em uma repartição pública. Hoje a Ecobras emprega 15 pessoas e vende sete tipos de produtos: tofu tradiconal, tofu tipo cottage, tofu defumado, molho shoyu, pastas à base de soja em oito sabores, maionese e iogurte com leite de soja. Este último foi desenvolvido em parceria com a Embrapa e tem lançamento comercial previsto para o fim do ano.
Grandes empresas investem no setor
A prova de que o mercado orgânico cresce a passos largos é o tamanho de algumas empresas. Uma delas é a Native, de Sertãozinho, São Paulo. Pertencente ao grupo Balbo, que é dono de duas usinas de açúcar e emprega 2.800 funcionários, a empresa foi constituída em 2002 com o objetivo de internacionalizar a linha orgânica. "Cerca de 90% da produção é exportada", diz o gerente comercial, Hélio da Silva.
Segundo ele, foram adotadas medidas ecologicamente corretas nas plantações de cana, que em 1986 eram mil hectares e hoje ocupam 13 mil. Foram criadas ilhas de biodiversidade entre as áreas cultivadas, com o reflorestamento de 1 milhão de árvores. Com isso, se restabeleceu o equilíbrio ecológico, que inibe a propagação de pragas. E ao contrário do que ocorre na maioria das plantações, a cana é colhida verde, sem que seja necessário queimar a parte seca do vegetal.
E o mercado orgânico deu resultados tão positivos que a Native resolveu expandir a linha de produtos. Em 2002 foi lançado o café orgânico e, no ano passado, foi a vez do suco de laranja.
Certificação garante a credibilidade
Um dos pilares para o crescente mercado orgânico são os selos de certificação nas embalagens. É ele que atesta a procedência livre de agrotóxicos e compostos químicos do produto. Portanto é a garantia de que se está levando um alimento mais saudável, o que justifica o preço maior. Os selos são obrigatórios para a exportação, variando o tipo de um país para outro.
No Brasil existem 25 empresas certificadoras. Os técnicos vão ao local de produção e inspecionam o processo detalhadamente, garantindo que nenhum elemento artificial é utilizado e que o meio ambiente é preservado. Os produtores, para terem nas embalagens os selos, devem se submeter uma vez por ano a novas inspeções.
Para garantir a lisura das empresas certificadoras, existe a Federação Internacional de Agricultura Orgânica (IFOAM, em inglês), com sede na Alemanha. Outro ponto importante é que as certificadoras devem possuir a ISO 65, que garante o cumprimento de várias normas que lhe dão credibilidade.
Para quem deseja iniciar produção orgânica, um bom caminho é acessar o site www.planetaorganico.com.br. Ali há várias dicas sobre o assunto e links para entidades de orientação.
Fonte: Jornal do Commercio
O sucesso é explicado pela busca de alimentos mais saudáveis, sem produtos químicos, por um público que valoriza a qualidade de vida e está disposto a pagar até 30% a mais por isso. No Brasil a agricultura orgânica ainda está se estruturando, se comparado a alguns países da Europa onde os orgânicos já ocupam 10% das terras.
Entre os estados brasileiros, o campeão é o Paraná, que responde por 20% da produção orgânica do país. Segundo dados da Secretaria da Agricultura paranaense, são 3.908 produtores, responsáveis por uma colheita agrícola de 52.270 toneladas. E embora o Rio de Janeiro ainda não esteja entre os primeiros na produção, com cerca de 900 famílias envolvidas no setor, já ocupa a segunda posição no consumo, perdendo apenas para São Paulo.
Isso demonstra o vigor desse mercado, que se tornou alternativa para as empresas em um segmento saturado e que busca inovações. Uma das maiores redes de supermercados do Rio, o Zona Sul, vende produtos orgânicos desde 1997. Segundo o diretor comercial da empresa, Jaime Xavier, no início eram oferecidos apenas 10 produtos. Atualmente são mais de 250 itens e a tendência é a oferta aumentar nos próximos anos. "O mercado orgânico vem crescendo anualmente de 30% a 40%. Hoje as maiores oportunidades estão nos segmentos de carnes, cereais matinais, frutas e cosméticos", aponta Xavier.
Seguindo a tendência, um grupo de criadores de Mato Grosso decidiu apostar no boi orgânico. Os animais são alimentados com pasto sem adubação, não recebem antibióticos e são tratados com homeopatia, tudo para agradar consumidores exigentes. "A demanda é maior que a oferta", comemora Henrique Balbino, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Animais Orgânicos.
Embora o tempo de engorda seja maior (30 meses, contra 24 da criação convencional), o produto alcança um preço 7% maior. Mas segundo Balbino, o principal retorno não é o lucro: "O maior benefício é saber que estamos fazendo a coisa certa, preservando a natureza e garantindo mais qualidade de vida".
Filosofia de vida incentivou indústria
Para alguns empresários, o mercado orgânico tem relação com suas próprias vidas. O casal Paulo e Paula Savino, donos da Ecobras, descobriram a alimentação natural na década de 80, quando participavam de movimentos alternativos. Foi em uma comunidade na Califórnia, onde moraram por quatro anos, que eles descobriram as técnicas da produção sem agrotóxicos ou adubos químicos.
Na volta ao Brasil, decidiram aplicar aqui o que aprenderam com os americanos. Abriram uma pousada em Nova Friburgo, na Serra, onde alimentavam os hóspedes só com produtos naturais. A idéia deu tão certo que eles perceberam a existência de mercado para a produção orgânica. Abandonaram o projeto da pousada e decidiram abrir uma pequena indústria. Se mudaram para a região de Guaratiba, zona Oeste do Rio, e em 1998 iniciaram a produção de tofu, como é chamado o queijo de soja.
"Tudo partiu de uma reflexão existencial sobre a busca de uma vida mais saudável", lembra Paulo, que na época trabalhava em uma repartição pública. Hoje a Ecobras emprega 15 pessoas e vende sete tipos de produtos: tofu tradiconal, tofu tipo cottage, tofu defumado, molho shoyu, pastas à base de soja em oito sabores, maionese e iogurte com leite de soja. Este último foi desenvolvido em parceria com a Embrapa e tem lançamento comercial previsto para o fim do ano.
Grandes empresas investem no setor
A prova de que o mercado orgânico cresce a passos largos é o tamanho de algumas empresas. Uma delas é a Native, de Sertãozinho, São Paulo. Pertencente ao grupo Balbo, que é dono de duas usinas de açúcar e emprega 2.800 funcionários, a empresa foi constituída em 2002 com o objetivo de internacionalizar a linha orgânica. "Cerca de 90% da produção é exportada", diz o gerente comercial, Hélio da Silva.
Segundo ele, foram adotadas medidas ecologicamente corretas nas plantações de cana, que em 1986 eram mil hectares e hoje ocupam 13 mil. Foram criadas ilhas de biodiversidade entre as áreas cultivadas, com o reflorestamento de 1 milhão de árvores. Com isso, se restabeleceu o equilíbrio ecológico, que inibe a propagação de pragas. E ao contrário do que ocorre na maioria das plantações, a cana é colhida verde, sem que seja necessário queimar a parte seca do vegetal.
E o mercado orgânico deu resultados tão positivos que a Native resolveu expandir a linha de produtos. Em 2002 foi lançado o café orgânico e, no ano passado, foi a vez do suco de laranja.
Certificação garante a credibilidade
Um dos pilares para o crescente mercado orgânico são os selos de certificação nas embalagens. É ele que atesta a procedência livre de agrotóxicos e compostos químicos do produto. Portanto é a garantia de que se está levando um alimento mais saudável, o que justifica o preço maior. Os selos são obrigatórios para a exportação, variando o tipo de um país para outro.
No Brasil existem 25 empresas certificadoras. Os técnicos vão ao local de produção e inspecionam o processo detalhadamente, garantindo que nenhum elemento artificial é utilizado e que o meio ambiente é preservado. Os produtores, para terem nas embalagens os selos, devem se submeter uma vez por ano a novas inspeções.
Para garantir a lisura das empresas certificadoras, existe a Federação Internacional de Agricultura Orgânica (IFOAM, em inglês), com sede na Alemanha. Outro ponto importante é que as certificadoras devem possuir a ISO 65, que garante o cumprimento de várias normas que lhe dão credibilidade.
Para quem deseja iniciar produção orgânica, um bom caminho é acessar o site www.planetaorganico.com.br. Ali há várias dicas sobre o assunto e links para entidades de orientação.
Fonte: Jornal do Commercio
Inteligência biológica
Apesar de a soja ser um exemplo de sucesso quando o assunto é produtividade da agricultura brasileira – ainda que ambientalistas se oponham a essa opinião – o Brasil tem deixado de ganhar bilhões de dólares com o produto. O motivo é a ferrugem asiática, doença provocada por um fungo que está atrapalhando bastante a vida do produtor brasileiro.
“Acho muito difícil que tenha ocorrido uma corrente de ar única, que trouxe esse problema direto para o Brasil. Para mim, em algum momento, alguém teve a intenção de trazer isso para cá, mas essa é opinião minha”, disse Afonso Celso Candeira Valois, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Para Valois, um dos conferencistas de sexta-feira (10/9), último dia do 50º Congresso Brasileiro de Genética, em Florianópolis, não se trata de paranóia. “O Brasil deve se preocupar com o bioterrorismo”, disse o pesquisador à Agência FAPESP.
A lista de exemplos por ele apresentada tinha vários itens, lembrando que pragas de fora do Brasil andam fazendo estragos nos campos brasileiros há vários anos. Isso ocorreu com o cacau, na Bahia, com a banana, na Amazônia, e está ocorrendo com a carambola, no Amapá. “E novas ameaças estão à nossa porta, como a monilia do cacaueiro, o besouro asiático da madeira, o mal da vaca louca e a gripe asiática das aves”, ressaltou.
Se dentro da Embrapa existem pessoas preocupadas com o que o pesquisador chama de “segurança biológica da agricultura e da biodiversidade”, fora da instituição esse é um problema ainda pouco discutido. “Acho que ainda não há muitas pessoas olhando para isso”, disse.
Uma iniciativa que nasceu na própria Embrapa gerou um plano estratégico de vigilância em segurança biológica na agricultura, que foi entregue na semana passada à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “É preciso que vários atores estejam envolvidos: cientistas, políticos e quem mais for preciso”, sugere Valois.
Não são apenas as ameaças vindas de fora que prejudicam a balança comercial brasileira. Problemas internos, não devidamente atacados, também estão causando um desequilíbrio financeiro. “Na safra de 2001, por exemplo, o Brasil perdeu US$ 422 milhões porque 466 toneladas de castanha foram devolvidas. As taxas de toxinas encontrada no produto estavam várias vezes acima do normal. Também tivemos problema com lotes de pimenta do reino contaminadas com salmonela”, contou o pesquisador da Embrapa.
Dentro desse plano, ele afirma que os cientistas e os geneticistas devem desempenhar um papel fundamental. “Uma das áreas em que a Embrapa trabalha, por exemplo, é no desenvolvimento de proteínas de defesa, que ajudam no combate a pragas”, disse.
A engenharia genética e todas as aplicações biotecnológicas seriam armas das mais importantes para que esse outro tipo de segurança, a biológica, possa ser garantida. “A partir da análise ampla desse problema, poderemos manejar os riscos biológicos e ambientais para a alimentação e para a agricultura”, acredita Valois, que também defende o termo “bioglobalização” para esses novos cenários.
Fonte: Agência FAPESP
“Acho muito difícil que tenha ocorrido uma corrente de ar única, que trouxe esse problema direto para o Brasil. Para mim, em algum momento, alguém teve a intenção de trazer isso para cá, mas essa é opinião minha”, disse Afonso Celso Candeira Valois, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Para Valois, um dos conferencistas de sexta-feira (10/9), último dia do 50º Congresso Brasileiro de Genética, em Florianópolis, não se trata de paranóia. “O Brasil deve se preocupar com o bioterrorismo”, disse o pesquisador à Agência FAPESP.
A lista de exemplos por ele apresentada tinha vários itens, lembrando que pragas de fora do Brasil andam fazendo estragos nos campos brasileiros há vários anos. Isso ocorreu com o cacau, na Bahia, com a banana, na Amazônia, e está ocorrendo com a carambola, no Amapá. “E novas ameaças estão à nossa porta, como a monilia do cacaueiro, o besouro asiático da madeira, o mal da vaca louca e a gripe asiática das aves”, ressaltou.
Se dentro da Embrapa existem pessoas preocupadas com o que o pesquisador chama de “segurança biológica da agricultura e da biodiversidade”, fora da instituição esse é um problema ainda pouco discutido. “Acho que ainda não há muitas pessoas olhando para isso”, disse.
Uma iniciativa que nasceu na própria Embrapa gerou um plano estratégico de vigilância em segurança biológica na agricultura, que foi entregue na semana passada à Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “É preciso que vários atores estejam envolvidos: cientistas, políticos e quem mais for preciso”, sugere Valois.
Não são apenas as ameaças vindas de fora que prejudicam a balança comercial brasileira. Problemas internos, não devidamente atacados, também estão causando um desequilíbrio financeiro. “Na safra de 2001, por exemplo, o Brasil perdeu US$ 422 milhões porque 466 toneladas de castanha foram devolvidas. As taxas de toxinas encontrada no produto estavam várias vezes acima do normal. Também tivemos problema com lotes de pimenta do reino contaminadas com salmonela”, contou o pesquisador da Embrapa.
Dentro desse plano, ele afirma que os cientistas e os geneticistas devem desempenhar um papel fundamental. “Uma das áreas em que a Embrapa trabalha, por exemplo, é no desenvolvimento de proteínas de defesa, que ajudam no combate a pragas”, disse.
A engenharia genética e todas as aplicações biotecnológicas seriam armas das mais importantes para que esse outro tipo de segurança, a biológica, possa ser garantida. “A partir da análise ampla desse problema, poderemos manejar os riscos biológicos e ambientais para a alimentação e para a agricultura”, acredita Valois, que também defende o termo “bioglobalização” para esses novos cenários.
Fonte: Agência FAPESP
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Filósofo e antropólogo francês Bruno Latour diz em entrevista que cientistas não devem fazer distinção entre fato e valor e que exigência de prover dados sem interpretá-los é culpada pelo fracasso da ciência e do poder público na discussão dos transgênicos
Bruno Latour é uma figura difícil classificar. Não é tarefa simples estabelecer se jamais foi moderno ou se mergulhou direto de maio de 1968 nas águas da pós-modernidade. Seus livros, vários deles editados no Brasil (como o recente "As Políticas da Natureza", Edusc, R$ 55), costumam despertar ojeriza nos cientistas naturais, que mesmo sem lê-los identificam no filósofo e antropólogo francês um dos arcebispos da religião desconstrucionista. Se parassem para meditar sobre os seguidos tropeços públicos das biotecnologias, no entanto, esses pesquisadores teriam uma ou duas coisas a aprender com Latour, que de arcebispo não tem nada.
Profeta, talvez. Latour escreveu livros incômodos, como "Vida de Laboratório" e "Ciência em Ação", e parece comprazer-se em nunca dizer o que o interlocutor dele espera ouvir. No congresso de estudos de ciência e tecnologia que organizou em Paris no final de agosto, por exemplo, não havia a habitual sessão de pôsteres em que estudantes ficam plantados ao pé dos mesmos. Resultado: mais de uma centena de sessões espalhadas por dezenas de salas na tradicional escola de engenharia e no Liceu Saint Louis, ambos no bulevar Saint-Michel e vizinhos do Jardim de Luxemburgo. Com exceção de uma sessão solene na sede do Senado da República, no Palácio de Luxemburgo, não houve plenárias.
Os títulos das sessões se revelavam quase tão inusitados quanto a cor laranja das bolsas distribuídas pelos organizadores. De robôs sociais à politização do software e da cartografia das invenções científicas à etnografia do código aberto, havia de tudo, para todos. O tema central do congresso conjunto da Sociedade para Estudos Sociais da Ciência (SSSS, ou 4S) e da Associação Européia de Estudos Sociais de Ciência (Easst) era, afinal, abrangente o bastante: "Provas públicas: Ciência, tecnologia e democracia".
Os transgênicos são um prato cheio para esse tema, pois tornam manifesto que a pesquisa científica é uma prática social, que ela mobiliza paixões e valores arraigados, que nem tudo nela são razões objetivas e capturáveis por meio de um desenho inteligente de experimentos. Trata-se da primeira controvérsia científica globalizada, em realidade, como percebeu Bruno Latour: "Há uma Guerra Mundial dos OGMs [organismos geneticamente modificados]", diz o francês, "que é interessante precisamente porque não há mortes". Quando muito, uma erosão contínua da confiança nos especialistas, tema que de resto já penetrou até a sociologia mais comportada, ou nada francesa, de um Anthony Giddens e de um Ulrich Beck.
Enganam-se, contudo, os cientistas naturais que virem em Latour um inimigo. Ele tem perceptível simpatia pelas agruras que estão vivendo com a querela dos OGMs, como deixa claro na entrevista a seguir. Segundo seu diagnóstico, para a irresolução dessa controvérsia contribuem falhas tanto dos protagonistas da esfera pública quanto dos pesquisadores, mas estes ao menos podem alegar que estão submetidos a um duplo vínculo, como diz o intelectual francês, a uma exigência contraditória -- prover fatos sem já interpretá-los: "Por favor, nada de nos dizer o que devemos fazer, mas, se também puderem nos dizer o que devemos fazer, seria bom".
Existe uma longa tradição de trânsito entre tais exigências, no que Latour chama de Teatro da Prova, do pêndulo de Foucault ao anel de borracha de vedação do ônibus espacial Challenger que Richard Feynman mergulhou num copo de água gelada: a necessidade, tanto para testemunhos políticos quanto para os científicos, de oferecer provas de uma maneira pública, convincente e dramática. "Melhores verdades", enfim, como pediu na abertura. Pode-se discordar de Latour em muitas coisas, mas é difícil deixar de perceber que suas idéias multicoloridas têm mais de construtivas do que de desconstrucionistas, como se pode ver na entrevista abaixo, concedida nos jardins da Escola de Minas no dia 26 de agosto, horas antes da cerimônia oficial no Senado:
Um dos principais debates públicos sobre ciência, hoje, é o dos organismos geneticamente modificados (OGMs), que não progride. Cientistas estão dispostos a tomar parte no debate, mas só como se estivessem entre pesquisadores. Há de fato resistência ao diálogo, a encontrar um modo novo de participar do debate público?
Eles estão certos, num certo sentido, por estarem preocupados. Ainda não se formou uma alternativa para o papel clássico do cientista de ensinar, fazer pesquisa ou aconselhar políticos. Em outras palavras, quando há hesitação sobre um novo regime, é melhor apegar-se ao velho. Pelo menos tem a vantagem principal de proteger a sua autonomia, que de outro modo é com freqüência ameaçada por outros interesses. A alternativa é muito difícil porque envolve não só mudar o modo com que os cientistas fazem as coisas, mas também o que se pede a eles que façam. É uma espécie de duplo vínculo: de um lado, eles são chamados a dar testemunho como "experts" -e eu acho que pedir a um cientista que se torne um "expert" é uma espécie de traição à missão da ciência-, e simultaneamente a nos dizer quais são os fatos. Ou seja: por favor, nada de nos dizer o que devemos fazer, mas, se também puder nos dizer o que devemos fazer, seria bom. O que eu proponho nesse livro ["As Políticas da Natureza"] é que nós organizemos essas posições com uma diferenciação entre as habilidades de cientistas, políticos, economistas, pessoal de mídia e assim por diante, e suas funções. Fazer uma distinção entre os domínios em que eles são chamados a atuar e as suas habilidades, porque há um mal-entendido aí. As pessoas acham que as habilidades dos cientistas são também o seu domínio, que é separado do resto. Não, [na realidade] são as habilidades que são diferentes, mas o domínio é o mesmo. É o mesmo que construir uma casa, em que há carpinteiros, eletricistas, encanadores -eles não estão construindo várias casas diferentes, uma do encanador, outra do eletricista, mas trabalhando no mesmo prédio.
Eles estão contribuindo com habilidades diferentes para a tarefa comum, é isso?
Sim. O problema é manter a diferença, e o temor dos cientistas correto, no meu entender - é que eles não querem ser confundidos com políticos, com advogados, porque não sabem como proceder. E estão certos! As habilidades são diferentes, a do encanador não é a mesma do eletricista. Mas o que é esse prédio que temos de construir? Essa é a questão a fazer. O prédio é o "cosmos" comum, para usar a velha expressão grega. No caso dos OGMs: política internacional, subsídios, aspectos legais, ecologia da dispersão de genes, onde encontrar experimentos que sejam públicos e convincentes, e assim por diante. É uma reunião muito grande. Assim, se eles dizem: "Ah, nós não queremos ter nada a ver com a construção do mundo comum, não é o nosso papel", aí estão errados, porque não estariam querendo que sua ciência tenha sucesso. Mas, quando dizem: "Sem uma alternativa, preferimos nos apegar a nossa definição de autonomia", nesse caso eu penso que eles estão certos.
Essas coisas às vezes se misturam. Os pesquisadores brasileiros não aceitam, por exemplo, que se modifiquem os poderes da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança [CTNBio], pois dizem que a decisão deve ser estritamente técnica. Isso não é uma maneira de tentar circunscrever o debate?
Isso é algo fácil de resolver, ainda que não o seja na prática. O fato é que a distinção está fazendo um corte no lugar errado, separando os dois papéis que os cientistas deveriam ter, mas lhes atribuindo ambos: a certeza sobre os fatos e a incerteza sobre os fatos. Com os valores é a mesma coisa. O que eu proponho é um corte noutro sentido. De fato, há duas funções a serem realizadas, que são muito diferentes; a casa a ser construída de fato é feita de coisas diversas. Uma é quais entidades têm de ser levadas em conta. É preciso pensar sobre fluxo gênico, sobre leis, sobre isso e aquilo, sobre o número de elementos que vão entrar na reunião, que devem ser recrutados e aceitos sem serem simplificados. E há também uma segunda tarefa: como ordenar, ou compor, esses diferentes institutos, num mundo comum. E isso é algo completamente diferente da distinção entre fato e valor. O modo com que os cientistas continuam mantendo a distinção fato-valor é inteiramente contraproducente, porque ao proceder assim eles estão disparando contra o próprio pé.
Essa é uma casa de todos. Não é só uma questão de saber se os genes fluem do campo de um agricultor para o de outro, mas se esse agricultor quer ter a Monsanto como seu patrão. Essa segunda questão é exatamente tão importante [quanto a primeira]: ela teria de ser provada, demonstrada, deveria haver meios de ser decidida. Os OGMs são interessantes porque não são perigosos, precisamente porque quase não têm perigo comprovado. É uma questão de soberania.
Mas por que, então, se tornaram uma questão tão grande, se não são perigosos?
Por causa do que Michel Callon [do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, EUA] disse esta manhã: antes dessa nova configuração, a saúde era a única maneira de criar uma dificuldade. As pessoas diziam: desde que não sejam perigosos, nós aceitamos. Deveria ser permitido dizer: não é perigoso, não é um problema de saúde, mas nós simplesmente não queremos! É uma questão de soberania, qual o mundo que queremos ter. É perfeitamente legítimo decidir assim o que não quer dizer que seja a decisão correta. É legítimo, desde que as outras funções dessa reunião tenham sido respeitadas, o processo devido ["due process"]. Nesse caso, não há absolutamente razão alguma para justificar sua imposição. Pessoalmente, não ligo a mínima. Acho os OGMs perfeitamente OK. Mas deveria ser possível dizer: não é perigoso, não é um problema de saúde, mas mesmo assim é uma questão de "cosmos", de arranjo, de paisagem, de beleza, de valores. Há muitas outras coisas. No caso dos OGMs, a questão principal é o vínculo entre a empresa e os plantadores, é uma questão de autoridade.
Quando se considera o debate sobre os OGMs entre a Europa e os Estados Unidos, é claramente uma questão de soberania. Os europeus dizem: nós aplicamos o princípio da precaução. É nosso direito ser soberanos. E os outros dizem, o que não é um mau argumento, tampouco: então é um obstáculo técnico ao livre comércio. O Brasil também está nessa disputa, por outras razões. Quando a soberania retorna, o debate se torna de novo politicamente interessante, pois não se trata de saúde.
Quando a saúde está em causa, não se pode dizer que se vai fazer alguma coisa que seja perigosa para a saúde. OK, não é perigoso para a saúde o que fazemos, então? Temos de decidir! É uma espécie de retomada da necessidade e de uma chance para a soberania. É um debate muito interessante. Penso que há uma Guerra Mundial dos OGMs, que é interessante precisamente porque não há mortes. A disputa sobre algodão transgênico também é muito interessante, na Índia. De novo, diz-se que é muito útil, mas é um algodão bom ou ruim? Se os camponeses não forem ouvidos, não se pode decidir se é bom ou ruim. Os cientistas estão certos em ficar desconfiados, porque não há ainda uma nova identidade. O dever de pessoas como nós, da sociedade, é tentar encontrar essas alternativas.
O sr. está otimista quanto a isso? Há alguma saída para esse impasse?
Bem, há 1.200 pessoas aqui [na conferência].
Mas como transformar todas essas discussões em algo institucional, em procedimentos?
Essa é a questão.
Faz alguma diferença se somos 1.200, e não 12. Hoje temos defensores do princípio de precaução na Comissão Européia. Faz alguma diferença? Pequena, mas toda diferença é pequena... 12.000 seria ainda melhor. Eu fico impressionado com o fato de que aquilo que nós víamos agora está ficando óbvio para muitos, mas eles ainda não pensaram sobre isso. A maneira oficial de representar ciência ainda é de 60, 100, 200 anos atrás, porque ninguém presta atenção aos cientistas. Quando os argumentos são apresentados aos cientistas calmamente, fora das ruas, eles dizem que sim, claro, é isso mesmo. É uma questão de bom senso.
Marcelo Leite, colunista da Folha
Folha de São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1209200401.htm
Caderno Mais! + ciência
Bruno Latour é uma figura difícil classificar. Não é tarefa simples estabelecer se jamais foi moderno ou se mergulhou direto de maio de 1968 nas águas da pós-modernidade. Seus livros, vários deles editados no Brasil (como o recente "As Políticas da Natureza", Edusc, R$ 55), costumam despertar ojeriza nos cientistas naturais, que mesmo sem lê-los identificam no filósofo e antropólogo francês um dos arcebispos da religião desconstrucionista. Se parassem para meditar sobre os seguidos tropeços públicos das biotecnologias, no entanto, esses pesquisadores teriam uma ou duas coisas a aprender com Latour, que de arcebispo não tem nada.
Profeta, talvez. Latour escreveu livros incômodos, como "Vida de Laboratório" e "Ciência em Ação", e parece comprazer-se em nunca dizer o que o interlocutor dele espera ouvir. No congresso de estudos de ciência e tecnologia que organizou em Paris no final de agosto, por exemplo, não havia a habitual sessão de pôsteres em que estudantes ficam plantados ao pé dos mesmos. Resultado: mais de uma centena de sessões espalhadas por dezenas de salas na tradicional escola de engenharia e no Liceu Saint Louis, ambos no bulevar Saint-Michel e vizinhos do Jardim de Luxemburgo. Com exceção de uma sessão solene na sede do Senado da República, no Palácio de Luxemburgo, não houve plenárias.
Os títulos das sessões se revelavam quase tão inusitados quanto a cor laranja das bolsas distribuídas pelos organizadores. De robôs sociais à politização do software e da cartografia das invenções científicas à etnografia do código aberto, havia de tudo, para todos. O tema central do congresso conjunto da Sociedade para Estudos Sociais da Ciência (SSSS, ou 4S) e da Associação Européia de Estudos Sociais de Ciência (Easst) era, afinal, abrangente o bastante: "Provas públicas: Ciência, tecnologia e democracia".
Os transgênicos são um prato cheio para esse tema, pois tornam manifesto que a pesquisa científica é uma prática social, que ela mobiliza paixões e valores arraigados, que nem tudo nela são razões objetivas e capturáveis por meio de um desenho inteligente de experimentos. Trata-se da primeira controvérsia científica globalizada, em realidade, como percebeu Bruno Latour: "Há uma Guerra Mundial dos OGMs [organismos geneticamente modificados]", diz o francês, "que é interessante precisamente porque não há mortes". Quando muito, uma erosão contínua da confiança nos especialistas, tema que de resto já penetrou até a sociologia mais comportada, ou nada francesa, de um Anthony Giddens e de um Ulrich Beck.
Enganam-se, contudo, os cientistas naturais que virem em Latour um inimigo. Ele tem perceptível simpatia pelas agruras que estão vivendo com a querela dos OGMs, como deixa claro na entrevista a seguir. Segundo seu diagnóstico, para a irresolução dessa controvérsia contribuem falhas tanto dos protagonistas da esfera pública quanto dos pesquisadores, mas estes ao menos podem alegar que estão submetidos a um duplo vínculo, como diz o intelectual francês, a uma exigência contraditória -- prover fatos sem já interpretá-los: "Por favor, nada de nos dizer o que devemos fazer, mas, se também puderem nos dizer o que devemos fazer, seria bom".
Existe uma longa tradição de trânsito entre tais exigências, no que Latour chama de Teatro da Prova, do pêndulo de Foucault ao anel de borracha de vedação do ônibus espacial Challenger que Richard Feynman mergulhou num copo de água gelada: a necessidade, tanto para testemunhos políticos quanto para os científicos, de oferecer provas de uma maneira pública, convincente e dramática. "Melhores verdades", enfim, como pediu na abertura. Pode-se discordar de Latour em muitas coisas, mas é difícil deixar de perceber que suas idéias multicoloridas têm mais de construtivas do que de desconstrucionistas, como se pode ver na entrevista abaixo, concedida nos jardins da Escola de Minas no dia 26 de agosto, horas antes da cerimônia oficial no Senado:
Um dos principais debates públicos sobre ciência, hoje, é o dos organismos geneticamente modificados (OGMs), que não progride. Cientistas estão dispostos a tomar parte no debate, mas só como se estivessem entre pesquisadores. Há de fato resistência ao diálogo, a encontrar um modo novo de participar do debate público?
Eles estão certos, num certo sentido, por estarem preocupados. Ainda não se formou uma alternativa para o papel clássico do cientista de ensinar, fazer pesquisa ou aconselhar políticos. Em outras palavras, quando há hesitação sobre um novo regime, é melhor apegar-se ao velho. Pelo menos tem a vantagem principal de proteger a sua autonomia, que de outro modo é com freqüência ameaçada por outros interesses. A alternativa é muito difícil porque envolve não só mudar o modo com que os cientistas fazem as coisas, mas também o que se pede a eles que façam. É uma espécie de duplo vínculo: de um lado, eles são chamados a dar testemunho como "experts" -e eu acho que pedir a um cientista que se torne um "expert" é uma espécie de traição à missão da ciência-, e simultaneamente a nos dizer quais são os fatos. Ou seja: por favor, nada de nos dizer o que devemos fazer, mas, se também puder nos dizer o que devemos fazer, seria bom. O que eu proponho nesse livro ["As Políticas da Natureza"] é que nós organizemos essas posições com uma diferenciação entre as habilidades de cientistas, políticos, economistas, pessoal de mídia e assim por diante, e suas funções. Fazer uma distinção entre os domínios em que eles são chamados a atuar e as suas habilidades, porque há um mal-entendido aí. As pessoas acham que as habilidades dos cientistas são também o seu domínio, que é separado do resto. Não, [na realidade] são as habilidades que são diferentes, mas o domínio é o mesmo. É o mesmo que construir uma casa, em que há carpinteiros, eletricistas, encanadores -eles não estão construindo várias casas diferentes, uma do encanador, outra do eletricista, mas trabalhando no mesmo prédio.
Eles estão contribuindo com habilidades diferentes para a tarefa comum, é isso?
Sim. O problema é manter a diferença, e o temor dos cientistas correto, no meu entender - é que eles não querem ser confundidos com políticos, com advogados, porque não sabem como proceder. E estão certos! As habilidades são diferentes, a do encanador não é a mesma do eletricista. Mas o que é esse prédio que temos de construir? Essa é a questão a fazer. O prédio é o "cosmos" comum, para usar a velha expressão grega. No caso dos OGMs: política internacional, subsídios, aspectos legais, ecologia da dispersão de genes, onde encontrar experimentos que sejam públicos e convincentes, e assim por diante. É uma reunião muito grande. Assim, se eles dizem: "Ah, nós não queremos ter nada a ver com a construção do mundo comum, não é o nosso papel", aí estão errados, porque não estariam querendo que sua ciência tenha sucesso. Mas, quando dizem: "Sem uma alternativa, preferimos nos apegar a nossa definição de autonomia", nesse caso eu penso que eles estão certos.
Essas coisas às vezes se misturam. Os pesquisadores brasileiros não aceitam, por exemplo, que se modifiquem os poderes da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança [CTNBio], pois dizem que a decisão deve ser estritamente técnica. Isso não é uma maneira de tentar circunscrever o debate?
Isso é algo fácil de resolver, ainda que não o seja na prática. O fato é que a distinção está fazendo um corte no lugar errado, separando os dois papéis que os cientistas deveriam ter, mas lhes atribuindo ambos: a certeza sobre os fatos e a incerteza sobre os fatos. Com os valores é a mesma coisa. O que eu proponho é um corte noutro sentido. De fato, há duas funções a serem realizadas, que são muito diferentes; a casa a ser construída de fato é feita de coisas diversas. Uma é quais entidades têm de ser levadas em conta. É preciso pensar sobre fluxo gênico, sobre leis, sobre isso e aquilo, sobre o número de elementos que vão entrar na reunião, que devem ser recrutados e aceitos sem serem simplificados. E há também uma segunda tarefa: como ordenar, ou compor, esses diferentes institutos, num mundo comum. E isso é algo completamente diferente da distinção entre fato e valor. O modo com que os cientistas continuam mantendo a distinção fato-valor é inteiramente contraproducente, porque ao proceder assim eles estão disparando contra o próprio pé.
Essa é uma casa de todos. Não é só uma questão de saber se os genes fluem do campo de um agricultor para o de outro, mas se esse agricultor quer ter a Monsanto como seu patrão. Essa segunda questão é exatamente tão importante [quanto a primeira]: ela teria de ser provada, demonstrada, deveria haver meios de ser decidida. Os OGMs são interessantes porque não são perigosos, precisamente porque quase não têm perigo comprovado. É uma questão de soberania.
Mas por que, então, se tornaram uma questão tão grande, se não são perigosos?
Por causa do que Michel Callon [do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, EUA] disse esta manhã: antes dessa nova configuração, a saúde era a única maneira de criar uma dificuldade. As pessoas diziam: desde que não sejam perigosos, nós aceitamos. Deveria ser permitido dizer: não é perigoso, não é um problema de saúde, mas nós simplesmente não queremos! É uma questão de soberania, qual o mundo que queremos ter. É perfeitamente legítimo decidir assim o que não quer dizer que seja a decisão correta. É legítimo, desde que as outras funções dessa reunião tenham sido respeitadas, o processo devido ["due process"]. Nesse caso, não há absolutamente razão alguma para justificar sua imposição. Pessoalmente, não ligo a mínima. Acho os OGMs perfeitamente OK. Mas deveria ser possível dizer: não é perigoso, não é um problema de saúde, mas mesmo assim é uma questão de "cosmos", de arranjo, de paisagem, de beleza, de valores. Há muitas outras coisas. No caso dos OGMs, a questão principal é o vínculo entre a empresa e os plantadores, é uma questão de autoridade.
Quando se considera o debate sobre os OGMs entre a Europa e os Estados Unidos, é claramente uma questão de soberania. Os europeus dizem: nós aplicamos o princípio da precaução. É nosso direito ser soberanos. E os outros dizem, o que não é um mau argumento, tampouco: então é um obstáculo técnico ao livre comércio. O Brasil também está nessa disputa, por outras razões. Quando a soberania retorna, o debate se torna de novo politicamente interessante, pois não se trata de saúde.
Quando a saúde está em causa, não se pode dizer que se vai fazer alguma coisa que seja perigosa para a saúde. OK, não é perigoso para a saúde o que fazemos, então? Temos de decidir! É uma espécie de retomada da necessidade e de uma chance para a soberania. É um debate muito interessante. Penso que há uma Guerra Mundial dos OGMs, que é interessante precisamente porque não há mortes. A disputa sobre algodão transgênico também é muito interessante, na Índia. De novo, diz-se que é muito útil, mas é um algodão bom ou ruim? Se os camponeses não forem ouvidos, não se pode decidir se é bom ou ruim. Os cientistas estão certos em ficar desconfiados, porque não há ainda uma nova identidade. O dever de pessoas como nós, da sociedade, é tentar encontrar essas alternativas.
O sr. está otimista quanto a isso? Há alguma saída para esse impasse?
Bem, há 1.200 pessoas aqui [na conferência].
Mas como transformar todas essas discussões em algo institucional, em procedimentos?
Essa é a questão.
Faz alguma diferença se somos 1.200, e não 12. Hoje temos defensores do princípio de precaução na Comissão Européia. Faz alguma diferença? Pequena, mas toda diferença é pequena... 12.000 seria ainda melhor. Eu fico impressionado com o fato de que aquilo que nós víamos agora está ficando óbvio para muitos, mas eles ainda não pensaram sobre isso. A maneira oficial de representar ciência ainda é de 60, 100, 200 anos atrás, porque ninguém presta atenção aos cientistas. Quando os argumentos são apresentados aos cientistas calmamente, fora das ruas, eles dizem que sim, claro, é isso mesmo. É uma questão de bom senso.
Marcelo Leite, colunista da Folha
Folha de São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004
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