* Marcos Sampaio Baruselli
“Os males do Brasil são muita saúva e pouca saúde”, já dizia um velho ditado. Se fosse nos dias de hoje, com certeza acrescentaria na lista dos grandes males do Brasil a erosão: “os males do Brasil são muita saúva, pouca saúde e erosão”.
A erosão dos solos está presente em todos os biomas brasileiros, desde a Mata Atlântica até a Floresta Amazônica, passando pelos Cerrados, Caatinga, Pantanal, campos, restingas e manguezais.
Em muitas destas áreas já é possível notar o processo de desertificação por causa do uso inadequado do solo, como é o caso dos campos gaúchos na fronteira com o Uruguai, onde grandes áreas antes agriculturáveis já se transformaram em desertos.
O risco de degradação e destruição do solo é expressivo em muitas regiões do Brasil devido à elevada suscetibilidade à erosão da maioria dos nossos solos, classificados hoje em mais de 250 tipos. A degradação acentuada com presença de erosão e de voçorocas já pode ser observada nos solos dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, entre outros, em função de uma ação antrópica (ação do homem sobre a vegetação) incorreta.
Somente no estado de São Paulo, o numero de voçorocas a ser controladas – segundo a CATI, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral –, é de 2.250, sendo que 1.500 bacias hidrográficas necessitam de intervenção, com custo estimado do programa de recuperação de mais de US$ 120 milhões. Para se ter uma idéia do tamanho do desastre, em média uma voçoroca leva cerca de 10 toneladas de terra por ano.
O problema da degradação dos solos não ocorre somente no Brasil. A ONU (Organização das Nações Unidas) calcula que o total de solos degradados no mundo é de 2 bilhões de hectares – área do tamanho dos Estados Unidos e Canadá juntos. E o avanço da catástrofe é de 20 milhões de hectares por ano.
Os principais agentes causadores da degradação do solo, segundo a ONU, são pastejo excessivo, descuido das práticas de conservação do solo e desmatamento sem critérios técnicos. No que diz respeito ao desmatamento, dados da EMBRAPA, de 1996, informam que as florestas tropicais estão reduzidas a 44% de sua área original e que o Brasil está entre os países que mais desmatam suas florestas no mundo.
O solo é um dos recursos naturais mais duramente castigados pelo desmatamento desordenado. As queimadas, quando praticadas em larga escala, retiram os nutrientes do solo, desprotegendo e diminuindo sua fertilidade e proporcionando as erosões. Estas, por sua vez, causam assoreamento de rios, lagos e represas, causando as inundações.
As erosões podem ser classificadas em dois tipos:
Hídrica: causada pelas chuvas. É a forma mais comum de erosão. Geralmente ocorre pelo uso inadequado do solo, como desmatamento e superexploração do solo. Pode evoluir para voçorocas.
Eólica (vento): tem ocorrência generalizada, dá-se principalmente quando grandes extensões de terra ficam desprovidas de cobertura vegetal.
Dos mais de 200 milhões de hectares de pastagens existentes no Brasil, a perda de solos por processos erosivos é estimada em mais de 3 bilhões de toneladas de solo por ano. O Brasil tem necessidade urgente de mais pesquisas que demonstrem com clareza as seguintes informações para então reverter o processo de degradação dos solos:
- Estudos da erodibilidade do solo;
- Implantação de práticas específicas de conservação do solo;
- Mapeamento hidrográfico das microbacias;
- Eliminação e/ou substituição das práticas extrativistas de exploração do solo por sistemas de produção sustentáveis que tenham como meta o correto manejo e a conservação do solo.
Algumas das regras básicas de manejo do solo que valem para a maioria das propriedades rurais incluem os seguintes itens:
- Evitar queimadas
- Reconstruir as matas ciliares
- Manter intactas as matas ciliares ao longo dos rios
- Manter matas nas propriedades (reserva legal)
- Adotar sempre que possível o plantio direto
- Adotar tecnologias voltadas à conservação do solo, como curvas de nível
- Plantar ou preservar árvores em linha nas pastagens
- Em terrenos de maior declividade, construir barreiras de modo a evitar a velocidade da água e aumentar a sua infiltração
Em suma, para a construção de uma agropecuária sustentável devemos todos, governo e sociedade juntos, respeitar a estrutura do solo e evitar que seja danificado.
* Marcos Sampaio Baruselli é zootecnista da Tortuga Cia. Zootécnica Agrária.
Texto Assessoria de Comunicações – Tel.: (11) 3675-1818
Jornalista Responsável: Altair Albuquerque (MTb 17.291)
Coordenação: Paulo Tunin (paulo@textoassessoria.com.br)
Atendimento: Vinicius Volpi (vinicius@textoassessoria.com.br)
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