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quarta-feira, setembro 22, 2004

Sementes: patrimônio dos povos a serviço da humanidade

Desenvolvida pela Vía Campesina Internacional, campanha tem sido usada nos assentamentos e acampamentos do MST como instrumento de conscientização e luta.

A defesa do direito de todos os camponeses e povos tradicionais em terem livre acesso à biodiversidade e, em especial, ao cultivo de suas sementes é a premissa básica da campanha “Sementes: patrimônio dos povos a serviço da humanidade”, proposta pela Vía Campesina Internacional no Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre (RS) e implementada nos assentamentos e acampamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A campanha pretende ser mais um instrumento de unificação das pautas e agendas dos movimentos sociais camponeses e entidades parceiras. Objetiva também mobilizar a sociedade, como um todo, a se opor à privatização da vida e dos meios de reprodução defendidas pelas transnacionais e países industrializados, a exemplo do que já ocorre com a “Luta Internacional pela Reforma Agrária”, os enfrentamentos aos tratados de Livre Comercio Internacional, a resistência à imposição dos transgênicos, à ALCA e à militarização.
Dentro da campanha, um conjunto de propostas e ações defendidas pela Vía Campesina vem se transformando em instrumento de conscientização para muitos movimentos sociais. Para o MST, a campanha “Sementes” vem fortalecer um dos principais objetivos de sua luta: levar em conta os conceitos e princípios da agroecologia como base da organização dos sistemas de produção dos assentamentos, buscando a diversificação da produção, a soberania alimentar, o comércio local, a autonomia em relação aos insumos para a produção, a manutenção e enriquecimento da vida e fertilidade do solo, entre outros; garantindo assim a melhoria da qualidade de vida e o bem estar das famílias assentadas e da sociedade como um todo. Para promover a sintonia das ações no conjunto dos 23 estados compreendidos:

- A campanha deve evoluir para um “Programa Ambiental do MST”, incorporando, além do resgate, multiplicação e uso de sementes, temas como modelo tecnológico, organização espacial, sistemas agroflorestais, matriz energética, relações homem-natureza, saúde e educação ambiental, entre outros.
- A tarefa é do conjunto da organização do MST, cabendo a todos os setores e coletivos pautarem o tema e desenvolverem iniciativas, promovendo a massificação do entendimento e das proposições.
- A campanha deve estar profundamente atrelada à luta contra os transgênicos, promovendo o debate e apresentando alternativas concretas. Também deverá ser um símbolo de resistência e superação ao agronegócio de monoculturas para exportação.

No ano de 2004, o MST tem articulado os primeiros passos da campanha dentro dos propósitos acima mencionados. Entre as principais ações realizadas até o momento há:
- A constituição de um coletivo nacional que coordena a campanha nas grandes regiões brasileiras.
- A realização de seminários regionais, com lideranças e técnicos dos estados, a fim de aprofundar os estudos e conhecimentos sobre o tema e organizar as ações nos estados.
- A realização de DRPBIO – Diagnóstico Rápido Participativo da Biodiversidade - que tem como função, além de diagnosticar a realidade do manejo da Biodiversidade local, auxiliar na sensibilização para a mobilização do conjunto das famílias para a tomada de decisão e implantação das ações estratégicas da campanha. Até o momento foram realizados 17 DRPBIOs.
- A implantação de ações concretas ou o fortalecimento de iniciativas existentes é o próximo passo após a realização do DRPBIO. De modo geral, a demanda de constituir bancos de sementes comunitários está presente em quase todos os assentamentos em que a campanha foi iniciada. Também estão sendo constituídos quintais diversificados, sistemas agroflorestais, manejo de pastagens, repovoamento de florestas nativas, capacitação e organização de grupos para trabalhar com artesanato, etc.
- A Realização de concursos de redação e desenho envolvendo o tema em todas as escolas do MST.
- Realização de gincanas participativas para identificar famílias e assentamentos que possuem maior diversidade preservada.

Todas estas ações para implementar a campanha “Sementes” nos assentamentos e acampamentos do MST tem como subsídios teóricos alguns livros e cartilhas publicadas pelo movimento e por instituições parceiras e o conhecimento popular dos camponeses - os grandes guardiões da natureza. O segredo de todo este processo está na forte mística, força e coragem do povo organizado que luta por uma vida melhor e com mais dignidade.
A Vía Campesina Internacional está presente em mais de 80 países, promovendo a elaboração dos princípios, objetivos e estratégias gerais de atuação em defesa das sementes. No Brasil, além do MST, a Vía é constituída pelas siglas MPA, MAB, CPT, MMC, FEAB. Completando 20 anos em 2004, hoje o MST conta com aproximadamente 300.000 famílias assentadas e 150.000 famílias acampadas.


Gustavo Garde
assessoria de imprensa
Secretaria Nacional do MST -SP

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