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quinta-feira, setembro 30, 2004

Embrapa engorda ovinos com resíduo de uva processada para vinho

O resíduo da uva processada na produção do vinho poderá se tornar em um bom ingrediente para a engorda de ovinos. O seu uso na alimentação animal combinado com forrageiras tradicionais, a exemplo de raspa de mandioca, farelo de milho e farelo de palma, promoveu ganhos de peso nos animais de 71, 117 e 132 g/dia, respectivamente. É um grande resultado, revela o pesquisador Gherman Garcia Leal de Araújo, da Embrapa Semi-Árido, e responsável pelos experimentos que avaliaram o potencial forrageiro do resíduo.
A pesquisa realizada no Laboratório de Nutrição Animal da Embrapa Semi-Árido é parte de uma tese de mestrado de Daerson Dantas Barroso no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), orientada pelo pesquisador da Embrapa. Em seus objetivos, ela atende a uma demanda do programa “Apoio à Cadeia Produtiva da Ovinocaprinocultura Brasileira” do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT): aproveitar as opções de alimentos forrageiros disponíveis regionalmente.
O subproduto da agroindústria do vinho se enquadra nessa demanda. No Vale do São Francisco, em especial no Pólo de Irrigação de Juazeiro/Petrolina, o resíduo é um material já abundante nas vinícolas. Parte dele é usado como adubo nos parreirais e o restante é queimado. O uso desse resíduo é uma maneira de reciclar seus nutrientes e pode ser um importante fator de redução de custos de produção, afirma o pesquisador. Até agora não tinha qualquer avaliação como uso forrageiro na região.
Aproveitamento – Na região do Submédio São Francisco está se consolidando um Pólo Vitivinícola que já está com 500 hectares plantados com variedades de uva para vinho, processa cerca de 7 milhões de litros, detém 15% do mercado nacional de vinho e gera uma grande quantidade de resíduos. O seu aproveitamento como forrageira é uma opção interessante na suplementação alimentar de ruminantes, explica Gherman Araújo.
Segundo Daerson Barroso, os ganhos de peso obtidos pelos animais sem raça definida e oriundos de sistemas de produção da caatinga, associando forrageiras tradicionais e o resíduo das vinícolas, são muitos bons. Aliás, ele se diz surpreso com o resultado dos testes. Quando começamos a avaliar as dietas, a expectativa era de apenas conseguir que os ovinos mantivessem o peso durante os noventa dias de duração da avaliação. Mas, o que conseguiram foi além disso: os animais engordaram em quantidades satisfatórias, explica o estudante de mestrado.
Outro aspecto relevante dos experimentos destacado por Daerson está no rendimento da carcaça dos animais abatidos em relação ao seu peso vivo. No momento logo após o abate, retirada as vísceras e a pele, a relação anotada variou de 45 a 53%. Num instante posterior, com a carcaça “fria”, os percentuais ficaram entre 43 e 52%. São resultados bons que se assemelham aos registrados em animais de condição corporal melhor, como os da raça Santa Inês, ressalta ele.
Fonte protéica - Esta alternativa de alimento animal pode estar disponível para os rebanhos do Sertão do Vale do São Francisco. A quantidade de animais nessa região é uma das maiores de todo o país. O desempenho produtivo, no entanto, é baixo, em conseqüência dos parcos recursos tecnológicos a forte dependência que os sistemas de criação pecuária tem da vegetação da caatinga como fonte quase que exclusiva de forragem para os animais.
O crescimento da agroindústria do vinho aumentará o volume de resíduo. O acúmulo desse subproduto pode vir a tornar-se um sério problema ambiental, argumenta o pesquisador da Embrapa. Pare ele, a busca de alternativas para o uso do resíduo na forma desidratada (feno) e fermentada (silagem) garante um bom aporte de nutrientes para os animais, especialmente nos períodos de maior escassez de forragem na região. O resíduo é uma excelente fonte protéica a ser convertida em leite, carne e pele, assegura Gherman.
Na opinião do pesquisador da Embrapa a integração das vinícolas e os milhares de pequenos caprino-ovinocultores descapitalizados em torno do resíduo formam um arranjo produtivo interessante e original no semi-árido. A disponibilidade de resíduo a um baixo custo beneficia os sistemas agrícolas familiares com o aumento da produtividade. Por outro lado, permite às vinícolas se livrarem, pela doação ou mesmo venda, de um material poluente. Ganham sustentabilidade os negócios agrícolas do semi-árido, enfatiza Gherman Araújo.

Contatos:

Gherman Garcia Leal de Araújo – Pesquisador, Embrapa Semi-Árido.
Marcelino Ribeiro – Jornalista, Embrapa Semi-Árido

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