A imagem dos produtos orgânicos, de frutas e legumes saudáveis, mas de má aparência, produzidos apenas por agricultores alternativos, é coisa do passado. Hoje este é o mercado de alimentos que mais cresce no mundo. Só no ano passado, segundo a Federação Internacional de Agricultura Orgânica, foram comercializados US$ 25 bilhões de produtos livres de venenos ou adubos químicos.
O sucesso é explicado pela busca de alimentos mais saudáveis, sem produtos químicos, por um público que valoriza a qualidade de vida e está disposto a pagar até 30% a mais por isso. No Brasil a agricultura orgânica ainda está se estruturando, se comparado a alguns países da Europa onde os orgânicos já ocupam 10% das terras.
Entre os estados brasileiros, o campeão é o Paraná, que responde por 20% da produção orgânica do país. Segundo dados da Secretaria da Agricultura paranaense, são 3.908 produtores, responsáveis por uma colheita agrícola de 52.270 toneladas. E embora o Rio de Janeiro ainda não esteja entre os primeiros na produção, com cerca de 900 famílias envolvidas no setor, já ocupa a segunda posição no consumo, perdendo apenas para São Paulo.
Isso demonstra o vigor desse mercado, que se tornou alternativa para as empresas em um segmento saturado e que busca inovações. Uma das maiores redes de supermercados do Rio, o Zona Sul, vende produtos orgânicos desde 1997. Segundo o diretor comercial da empresa, Jaime Xavier, no início eram oferecidos apenas 10 produtos. Atualmente são mais de 250 itens e a tendência é a oferta aumentar nos próximos anos. "O mercado orgânico vem crescendo anualmente de 30% a 40%. Hoje as maiores oportunidades estão nos segmentos de carnes, cereais matinais, frutas e cosméticos", aponta Xavier.
Seguindo a tendência, um grupo de criadores de Mato Grosso decidiu apostar no boi orgânico. Os animais são alimentados com pasto sem adubação, não recebem antibióticos e são tratados com homeopatia, tudo para agradar consumidores exigentes. "A demanda é maior que a oferta", comemora Henrique Balbino, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Animais Orgânicos.
Embora o tempo de engorda seja maior (30 meses, contra 24 da criação convencional), o produto alcança um preço 7% maior. Mas segundo Balbino, o principal retorno não é o lucro: "O maior benefício é saber que estamos fazendo a coisa certa, preservando a natureza e garantindo mais qualidade de vida".
Filosofia de vida incentivou indústria
Para alguns empresários, o mercado orgânico tem relação com suas próprias vidas. O casal Paulo e Paula Savino, donos da Ecobras, descobriram a alimentação natural na década de 80, quando participavam de movimentos alternativos. Foi em uma comunidade na Califórnia, onde moraram por quatro anos, que eles descobriram as técnicas da produção sem agrotóxicos ou adubos químicos.
Na volta ao Brasil, decidiram aplicar aqui o que aprenderam com os americanos. Abriram uma pousada em Nova Friburgo, na Serra, onde alimentavam os hóspedes só com produtos naturais. A idéia deu tão certo que eles perceberam a existência de mercado para a produção orgânica. Abandonaram o projeto da pousada e decidiram abrir uma pequena indústria. Se mudaram para a região de Guaratiba, zona Oeste do Rio, e em 1998 iniciaram a produção de tofu, como é chamado o queijo de soja.
"Tudo partiu de uma reflexão existencial sobre a busca de uma vida mais saudável", lembra Paulo, que na época trabalhava em uma repartição pública. Hoje a Ecobras emprega 15 pessoas e vende sete tipos de produtos: tofu tradiconal, tofu tipo cottage, tofu defumado, molho shoyu, pastas à base de soja em oito sabores, maionese e iogurte com leite de soja. Este último foi desenvolvido em parceria com a Embrapa e tem lançamento comercial previsto para o fim do ano.
Grandes empresas investem no setor
A prova de que o mercado orgânico cresce a passos largos é o tamanho de algumas empresas. Uma delas é a Native, de Sertãozinho, São Paulo. Pertencente ao grupo Balbo, que é dono de duas usinas de açúcar e emprega 2.800 funcionários, a empresa foi constituída em 2002 com o objetivo de internacionalizar a linha orgânica. "Cerca de 90% da produção é exportada", diz o gerente comercial, Hélio da Silva.
Segundo ele, foram adotadas medidas ecologicamente corretas nas plantações de cana, que em 1986 eram mil hectares e hoje ocupam 13 mil. Foram criadas ilhas de biodiversidade entre as áreas cultivadas, com o reflorestamento de 1 milhão de árvores. Com isso, se restabeleceu o equilíbrio ecológico, que inibe a propagação de pragas. E ao contrário do que ocorre na maioria das plantações, a cana é colhida verde, sem que seja necessário queimar a parte seca do vegetal.
E o mercado orgânico deu resultados tão positivos que a Native resolveu expandir a linha de produtos. Em 2002 foi lançado o café orgânico e, no ano passado, foi a vez do suco de laranja.
Certificação garante a credibilidade
Um dos pilares para o crescente mercado orgânico são os selos de certificação nas embalagens. É ele que atesta a procedência livre de agrotóxicos e compostos químicos do produto. Portanto é a garantia de que se está levando um alimento mais saudável, o que justifica o preço maior. Os selos são obrigatórios para a exportação, variando o tipo de um país para outro.
No Brasil existem 25 empresas certificadoras. Os técnicos vão ao local de produção e inspecionam o processo detalhadamente, garantindo que nenhum elemento artificial é utilizado e que o meio ambiente é preservado. Os produtores, para terem nas embalagens os selos, devem se submeter uma vez por ano a novas inspeções.
Para garantir a lisura das empresas certificadoras, existe a Federação Internacional de Agricultura Orgânica (IFOAM, em inglês), com sede na Alemanha. Outro ponto importante é que as certificadoras devem possuir a ISO 65, que garante o cumprimento de várias normas que lhe dão credibilidade.
Para quem deseja iniciar produção orgânica, um bom caminho é acessar o site www.planetaorganico.com.br. Ali há várias dicas sobre o assunto e links para entidades de orientação.
Fonte: Jornal do Commercio
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