Depois de ficar 27 anos fora do mercado internacional, o arroz em casca deve voltar à pauta de exportações brasileiras neste ano. Há pouco mais de um mês, os arrozeiros do Rio Grande do Sul – maior produtor da cultura no país – começaram a se organizar para tentar retornar ao mercado externo. Com uma safra de 12,7 milhões de toneladas e um consumo estimado em 12,6 milhões de toneladas, o Brasil tem um excedente exportável de 100 mil toneladas. É exatamente esse volume que os gaúchos esperam vender para o exterior, o que representará um faturamento de US$ 20 milhões.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apóia a ampliação das culturas de grãos na pauta de exportações. “Esse é um bom caminho para melhorar a renda do produtor e gerar novos empregos”, afirma o coordenador de Abastecimento Agropecuário do Mapa, Sílvio Farnese. Segundo ele, a estratégia do agronegócio brasileiro de incluir novos produtos no mercado internacional começou com o milho, em 2001. No ano passado, foi a vez do trigo e agora é a do arroz irrigado do Rio Grande do Sul, responsável por 49,6% (6,3 milhões de toneladas) da produção nacional neste ano.
O cenário mundial é favorável à estratégia dos arrozeiros de conquistar novos mercados. “Enquanto aumenta a demanda por arroz, a oferta vem caindo”, disse hoje (13/07) o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Valter Pötter. Há 10 anos, lembra, o estoque mundial era de 150 milhões de toneladas. ‘Hoje, é de 80 milhões, ou seja, houve uma redução de 35%.” A cotação do produto também encorajou os gaúchos: “Há quatro anos, o preço internacional da tonelada de arroz variava entre 100 e 200 dólares. Agora, está em 200 dólares, tendo paridade com o mercado interno.”
Outro fator também motivou a investida dos gaúchos. A safra de arroz no Mercosul, hoje de 14,6 milhões de toneladas, deve crescer cada vez mais. “Com a incorporação de novas tecnologias pela cadeia produtiva, é inevitável o aumento da produção. Isso faz com que o Mercosul, ao contrário do restante do mundo, tenha um volume significativo de excedentes exportáveis”, ressaltou Pötter. Segundo ele, o Brasil não tem como frear as importações do produto argentino e uruguaio. “Sempre iremos importar um pouco desses dois países.” Só há, portanto, uma alternativa: expandir as fronteiras para o arroz brasileiro.
LOGÍSTICA - “A saída para regular a oferta e a demanda no Mercosul é retirar o arroz gaúcho do mercado interno e negociá-lo para outros países”, revelou o presidente da Federarroz. Para escoá-lo, acrescentou Pötter, os arrozeiros contam com uma infra-estrutura de logística adequada. “A área de produção, nas regiões da Campanha e da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, fica a 300 quilômetros do porto de Rio Grande, onde já dispomos de dois terminais para estocar o produto.” Além do transporte rodoviário, os carregamentos podem ser levados ao porto por ferrovias.
Até agora, 185 produtores já manifestaram a intenção de destinar parte da safra para o mercado externo. Algumas cooperativas, como a Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda (Caal), também vão exportar. A Caal ganhou uma cota de 20 mil sacas para vender ao mercado externo e está promovendo uma campanha entre seus associados para alcançar o volume estabelecido.
A Federarroz está conduzindo com cautela o processo de articulação da cadeia produtiva para atender o mercado internacional. “Uma das nossas maiores preocupações é com a sanidade do produto”, enfatizou Pötter. De acordo com ele, as cargas destinadas à exportação vão passar por quatro análises antes do embarque – duas na fazenda e outras duas no porto de Rio Grande.
“Também contratamos uma certificadora internacional para atestar a sanidade dos carregamentos”, informou Pötter. A Federarroz já estabeleceu ainda parceria com uma trading que se encarregará de colocar o produto no mercado internacional. Entre os mercados alvos para o arroz brasileiro estão os países da América do Sul e Central , do Leste Europeu, da África e do Oriente Médio.
Ex-presidente do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), o delegado federal de Agricultura no Rio Grande do Sul, Francisco Signor, considera essencial a participação no mercado internacional para o fortalecimento da cadeia produtiva. “Precisamos, porém, criar uma sólida cultura exportadora. Um dos fundamentos básicos a ser seguido é o da formação de estoques. Com isso, teremos regularidade no fornecimento e ganharemos a confiança dos importadores.”
A inclusão de novas culturas na pauta de exportações tem alcançado resultados positivos. Em 2001, por exemplo, o país exportou 5,6 milhões de toneladas de milho. Os embarques caíram para 2,7 milhões de toneladas em 2002, subiram para 3,5 milhões de toneladas em 2003 e vão ficar entre 4,5 e 5 milhões de toneladas neste ano. Já as vendas externas de trigo começaram com 58 toneladas em 2003 e devem saltar para 1,3 milhão de toneladas neste ano.
Fonte: MAPA
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