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terça-feira, junho 15, 2004

Soja contaminada pode ter relação com transgênicos

Uma decisão anunciada pelo governo chinês nesta segunda-feira (14) praticamente extinguiu o comércio de soja entre China, maior importador mundial, e Brasil, segundo maior produtor do mundo. Mais de 15 empresas foram acrescentadas à lista dos fornecedores de soja brasileira proibidos de exportar para o país. A China barrou temporariamente essas empresas de exportarem soja alegando ter encontrado produtos agroquímicos como o fungicida “carboxim”, que teriam sido usados para tratar sementes de soja que deveriam ser usadas para o plantio, mas acabaram misturadas à soja em grão. A agência chinesa responsável por esse controle alegou que o objetivo da proibição é proteger a saúde dos consumidores. O ex-secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, José Hermeto Hoffmann, sustenta que o episódio tem relação direta com o plantio ilegal de soja transgênica no Estado.
As 15 novas empresas colocadas na lista negra do governo chinês incluem a Bunge Agrobusiness Singapure Pte Ltd, a Glencore Importadora e exportadora S.A. e o Sumitomo Corp do Brasil S.A. Já estavam na lista outras grandes empresas, como a ADM do Brasil, a Louis Dreyfus Asia, a Cargill Agrícola e a Noble. Com a decisão desta segunda, já são 22 as empresas brasileiras ou unidades de multinacionais de comércio de grãos proibidas de exportarem soja brasileira para a China. Desde abril, importadores de soja da China rechaçaram 239 mil toneladas de soja brasileira devido à contaminação das cargas por sementes tratadas com agroquímicos.
Alguns países permitem a presença de sementes de soja até um limite estipulado. Na Europa e nos Estados Unidos esse limite é de três sementes por quilo de soja. O Brasil revisou sua legislação na semana passada, passando a permitir apenas uma semente por quilo, mas a China exige a chamada “tolerância zero” para a soja brasileira. Com a ampliação da lista negra das empresas brasileiras, praticamente todo o volume entre 3 e 3,5 milhões de toneladas de soja brasileira – avaliado entre US$ 1,2 e US$ 1,4 bilhão – encomendado por empresas chinesas para embarque entre maio e julho, está comprometido.

Relação com soja transgênica
Em artigo intitulado “Quem envenenou a soja”, o ex-secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, José Hermeto Hoffmann, afirma que o episódio da soja contaminada tem relação direta com o plantio ilegal de soja transgênica no Rio Grande do Sul. Hoffmann lembra que, no início de 2003, o governo federal chegou a proibir o plantio de soja transgênica. Diante dessa proibição, os produtores adquiriram sementes convencionais, mas meses depois, o plantio das sementes transgênicas contrabandeadas da Argentina foi liberado. Com isso, observa ainda o secretário em seu artigo, muita soja transgênica foi plantada e sobrou a semente convencional.
Segundo ele, sementes tratadas com agroquímicos ficaram na mão de produtores por ocasião da colheita da safra. Até então, as sementes excedentes ficavam com as sementeiras e nem por isso eram misturadas nas cargas de soja comercial. “Qualquer agricultor sabe que semente de cor avermelhada contém veneno. Assim, misturar semente envenenada com o com grão comercial foi um ato consciente, portanto, criminoso”, sustenta Hoffmann.
O mais grave, acrescenta, é que muitos inocentes pagarão esta conta: “a maioria absoluta de sojicultores que não cometeram o crime e que estão perdendo até 20% no preço da sua produção; as cooperativas que ficam com a soja estocada, o país que vê o seu PIB e a balança comercial afetados e, por último, os consumidores, que vão ingerir os derivados desta soja sem saber o grau de contaminação e nem os eventuais males a ela associados”.
Para o ex-secretário (que trabalhou no governo Olívio Dutra), a contaminação da soja vendida à China tem relação direta com o plantio ilegal da soja transgênica. “Sem ela não teríamos chegado ao ponto de ter excedente de semente envenenada na mão de agricultores. E, principalmente, sem ela, não teríamos chegado a esta cultura da desobediência civil generalizada no campo. Se podemos plantar soja transgênica que é proibida, por que não misturar semente envenenada com grão comercial?”, indaga Hoffmann.

Apesar do problema, vendas aumentam
Apesar da suspeita levantada pela China em relação à soja brasileira, as vendas do produto seguem aumentando no exterior, em comparação com os números de 2003. Segundo dados da Secretaria de Comercio Exterior (Secex), a receita média do Brasil com as exportações da soja aumentou, em junho, mais de 109%, em relação ao mesmo período de 2003. Isso significa que em junho do ano passado, o Brasil exportou em média US$ 44,3 milhões, enquanto atualmente o mesmo setor vende por dia uma média de US$93,1 milhões em soja. Na comparação com maio, a media diária das vendas da soja brasileira no mercado internacional também foi maior. Ainda segundo a Secex, cresceu 70,8%, passando de uma média diária de US$54,5 milhões, em maio, para US$93,1 milhões, em junho.
Mas o problema com a China preocupa os produtores brasileiros, que já estimam perdas com o episódio. Segundo o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, se as cargas devolvidas não fossem mais comercializadas, os prejuízos com o não embarque da soja brasileira poderiam alcançar US$1 bilhão. Esse prejuízo, segundo Sperotto, ainda não está contabilizado. “Não vamos ficar com essa mercadoria sem comercializar”, afirmou o produtor que também é presidente da Federação da Agricultura do RS (Farsul).

Tolerância zero para soja contaminada
Mas se de fato estiver contaminada, essa soja não poderá ser comercializada no Brasil, em função de uma decisão tomada pelo Ministério da Agricultura na semana passada. A cadeia produtiva do complexo soja deverá adotar padrões de qualidade em que o produto “in natura” destinado ao consumo direto (humano ou animal) terá tolerância zero para a presença de partículas com suspeita de contaminação. No caso de grãos destinados ao processamento e à exportação, será permitida apenas uma partícula tóxica por quilo, na média ponderada. Os novos procedimentos para certificação das condições higiênico-sanitárias da soja em grão foram aprovados pela Instrução Normativa nº 15, assinada pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e já publicada no Diário Oficial da União.
As regras para comercialização de soja que entram em vigor no Brasil são duas vezes mais rigorosas que as normas dos Estados Unidos sobre o assunto, segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, Girabis Evangelista Ramos. O ministro Roberto Rodrigues já solicitou ao Ministério da Quarentena da China, por meio da sua embaixada chinesa, a análise dos novos requisitos e a revisão dos critérios exigidos para importação da soja brasileira. O governo brasileiro também está propondo que o setor privado contrate auditoria internacional nas empresas credenciadas pelo Ministério da Agricultura para emitir certificado de qualidade da soja.

Fonte: Agência Carta Maior

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