Pesquisadores da Embrapa Semi-Árido, do CIRAD e técnicos de organizações não governamentais irão, pelos próximos três anos, pesquisar os efeitos das barragens subterrâneas nos sistemas produtivos dos agricultores familiares em nove municípios dos estados da Bahia, Pernambuco e Paraíba. Onde estão instaladas e manejadas com eficiência as barragens formam uma espécie de oásis nas áreas secas da Região Nordeste. Tecnologia que capta água de chuva, elas funcionam armazenando essa água dentro do solo, o que reduz bastante o efeito da evaporação, e mantém a terra com umidade por vários meses após o período chuvoso na região. Nesta área, os agricultores conseguem reduzir riscos de perdas de safras de grãos para a alimentação da família como fazer vingar até mesmo o plantio de fruteiras e culturas como o arroz, que são exigentes em água.
Em Dormentes, na única barragem subterrânea instalada no município, na propriedade de José Brasilino Coelho, seu Zequinha, está no meio da colheita da safra de arroz. Na mesma área, já foi colhido feijão, enquanto o guandu, melancia de cavalo, sorgo e fava estão quase na época de corte. No lugar das plantas que estão sendo cortadas, ele está plantando macaxeira, embora já tenha passado a época das chuvas. Zequinha está confiando na água que guarda escondida debaixo da terra, para incrementar a produtividade agrícola da sua propriedade.
Pesquisa e transferência de tecnologia – A barragem de Seu Zequinha é a única do município de Dormentes. Em todo o Nordeste elas somam cerca de 1000 unidades. É uma quantidade inexpressiva se comparada ao número de produtores do semi-árido que necessitam reduzir os riscos da exploração agrícola, revela a pesquisadora da Embrapa Semi-Árido, Maria Sonia Lopes da Silva. Desde 1982 a Embrapa iniciou atividades de pesquisa e de transferência de tecnologia relacionadas à barragem subterrânea. Em geral, os resultados obtidos são bons mas, ainda hoje, é pouco conhecida pelos agricultores e tem sido adotada num ritmo muito lento devido à baixa disponibilidade de renda e a ausência de políticas públicas adequadas para os agricultores familiares. Além disso não há ainda parâmetros definidos para uma avaliação da eficiência dessas barragens, revela.
Maria Sonia é a coordenadora do projeto “Barragem Subterrânea: manejo de solo e água e capacitação dos produtores”, que receberá financiamento do Banco do Nordeste, buscando soluções para problemas de pesquisa relacionados a essa tecnologia e estabelecer métodos que facilitem a sua adoção pelos agricultores familiares. Uma novidade em relação à sua execução é que não ficará apenas a cargo da equipe técnica formada por pesquisadores da Embrapa Semi-Árido, técnicos de organizações não governamentais como o Caatinga, IRPAA e AS-PTA, além do consultor Jean Phillipe Tunneau, do CIRAD - instituição de pesquisa da França. Reunida por dois dias num workshop, a equipe estabeleceu um cronograma de atividades que prioriza a interação dos especialistas com os produtores e suas entidades representativas em todas as ações do projeto.
Segundo Maria Sonia, a participação dessas organizações agrega ao projeto a grande experiência em estabelecer processos inovadores de transferência de tecnologia nos quais os agricultores têm participação ativa em todas as fases. Coordenador do Programa de Convivência com o Semi-Árido da ong Caatinga, Paulo Pedro de Carvalho afirma que não é a tecnologia em si que faz o desenvolvimento. A tecnologia é um canal que auxilia técnicos e agricultores a dialogarem e construírem um conhecimento mais pleno do desenvolvimento social, ambiental e econômico que se efetivará na sustentabilidade das propriedades, explica ele.
O projeto financiado pelo Banco do Nordeste vai ser executado em três etapas. Primeiro, será feito o monitoramento dos impactos provocados pelas barragens subterrâneas nas áreas produtivas, a exemplo do nível do lençol freático, salinidade do solo, melhorias nas qualidades de produção das propriedades e na vida das famílias. Nesta fase, a equipe técnica do projeto irá avaliar ainda potencialidades e dificuldades relacionadas á tecnologia de captação de água de chuva. Numa segunda etapa, acontecerá a implantação de unidades demonstrativas dessas barragens com vistas à sensibilização dos produtores para aspectos relacionados a métodos de construção e importância produtiva da tecnologia nas propriedades.
Na etapa final, a pesquisa irá estabelecer manejos adequados de solo, água e plantas nas áreas das barragens. Para Maria Sonia, ao fim de três anos, o projeto deverá ter informações consolidadas e disponíveis acerca do uso eficiente das barragens subterrâneas. Junto com os pesquisadores, produtores, comunidades e assentamentos rurais, e organizações não-governamentais vamos definir melhorias na forma de construção, no manejo de solo para evitar problemas de salinização e alternativas de cultivos apropriados à tecnologia, assegura a pesquisadora.
O projeto será executado em nove municípios de três estados do Nordeste: Canudos, Jaboticaba e Filadélfia - na Bahia, Petrolina, Ouricuri e Bodocó – em Pernambuco, e Soledade, Solânea e Lagoa Seca – na Paraíba.
Mais informações:
Marcelino Ribeiro – Jornalista
Embrapa Semi-Árido: tel 87 3862 1711
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