Estudos realizados pela Embrapa Trigo, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária no Rio Grande do Sul, mostram que a produtividade média de 2 toneladas de trigo por hectare no país pode chegar a 15 toneladas. Mas para que isso aconteça, além de uma base genética adequada para altos rendimentos e de condições de ambiente favoráveis, o investimento em tecnologia é fundamental, afirma Gilberto Cunha, pesquisador da unidade.
"De maneira geral, tende-se a investir menos no trigo, porque se criou um mito de que se trata de uma cultura de risco", observa Cunha. Na opinião dele, interesses conflitantes de mercado contribuíram para essa situação. "Trigo é a nossa mais importante opção econômica para a safra de inverno. Falar em falta de mercado é outra inverdade. O Brasil é hoje o país que mais importa trigo (acima de 5 milhões de toneladas em 2003). Temos um grande mercado local, além de existir um mercado mundial demandante para esse cereal", argumenta.
Ele conta que muitos produtores acreditam que fazendo uma lavoura barata, correm menor risco e têm maior retorno. Mas segundo explica o pesquisador, isso nem sempre é verdade, particularmente com o trigo. "Para se obter rendimentos elevados nas lavouras, o investimento em tecnologia é fundamental. Começando com a escolha da cultivar mais adaptada para as condições locais, o uso de insumos, boas práticas de manejo dos cultivos (equipamentos adequados e profissionais habilitados para o seu manejo) e, uma coisa que é muitas vezes desconsiderada pelo produtor, contar com assessoria técnica competente", avalia.
O pesquisador revela que existem casos de produtores que, nas melhores áreas e com o uso da tecnologia disponível, no sul do Brasil, já colheram, em lavouras comerciais, cerca de 5 toneladas/ha. No Brasil Central, os rendimentos das lavouras de trigo irrigado superam as 6 toneladas/ha. Em experimentos, tanto no Brasil Central quanto no sul do país, já se colheu perto de 8 hectares/ha de grãos de trigo.
Em outros países, também tem sido assim. De acordo com Cunha, em experimentos de campo no sul do Chile, por exemplo, que tem uma condição de ambiente muito adequada para a produção de trigo, já se obteve perto de 17 toneladas de grãos de trigo por hectare. "Mas deve ficar claro que os produtores daquela região não colhem isso. E também naquela região se faz apenas uma safra por ano. Aqui no Brasil temos condições de fazer uma safra de inverno e outra de verão. Isso é uma vantagem comparativa muito grande para a agricultura brasileira, que muitas vezes não se leva em conta", diz.
Cunha acredita que o Brasil, mesmo sendo o país que mais importa trigo, também pode ocupar espaços no mercado mundial. Isso já começou na safra passada, quando o Brasil exportou 1,3 milhões de toneladas de trigo produzido no sul do país. "Esse fato é importante, porque foi a primeira vez que isso aconteceu na história da República. Para continuarmos nesse mercado altamente competitivo, é fundamental criarmos uma identidade para o trigo brasileiro, o que exige padronização de produto e organização da produção interna regionalmente", considera. "A competitividade do agronegócio brasileiro é grande, já começando a assustar muitos países no mundo. Em relação ao trigo, ainda estamos nos mostrando 'incompetentes'; mas felizmente essa situação já começou a mudar", complementa o pesquisador.
O Brasil hoje conta com programas de melhoramento genético de trigo tanto em instituições públicas quanto na iniciativa privada. O alvo desses programas é a criação de cultivares que se adaptem às diferentes regiões de produção, sejam tolerantes aos diversos estresses bióticos (resistência a doenças e pragas, por exemplo) e abióticos (seca, toxidez de alumínio, etc), apresentem rendimentos elevados e estáveis, além de possuírem características de qualidade industrial demandadas pelo mercado.
"Nossos progressos alcançados na área de melhoramento genético de trigo estão entre os maiores do mundo", aponta Cunha. De acordo com ele, o germoplasma (conjunto de genes encontrados numa população ou conjunto de populações) brasileiro é buscado e usado como base em programas de melhoramento genético no mundo todo. "Poucos países conseguiram criar cultivares de trigo tão bem adaptadas a condições de ambiente nem sempre tão adequadas quanto o Brasil. E esse reconhecimento, os nossos melhoristas de trigo detêm", comemora.
No que diz respeito às praticas de manejo de cultura em trigo, Cunha explica que hoje se busca otimizar o aproveitamento das condições de ambiente, com o objetivo de potencializar a sua exploração, além de se alcançar estabilidade de rendimento. Para o pesquisador, o manejo orientado pela fisiologia da planta, fazendo-se intervenções no momento mais adequado, certamente poderá contribuir para melhorar os rendimentos de trigo no país.
OGMs
Em fase de pesquisa, também prossegue, no mundo todo, o trabalho de modificação genética do trigo, "com resultados promissores (em alguns casos), no tocante à incorporação de genes que conferem características desejáveis em termos de melhoria de qualidade industrial (proteínas do glúten, valor nutricional, etc) e tolerância a estresses abióticos e bióticos", afirma Cunha.
Por enquanto, ainda não existem cultivos comerciais de trigo geneticamente modificado. O primeiro seria o trigo do tipo Roundup Ready, que a empresa americana Monsanto vinha desenvolvendo há seis anos. "Todavia, a Monsanto não julgou adequado, em termos de vantagens comerciais comparativas, colocar esse tipo de trigo no mercado; pelo menos, por hora", acredita o pesquisador.
Fonte: ComCiência
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