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sexta-feira, maio 21, 2004

TRANSGÊNICOS, FAO E OS JORNALISTAS: Opinião do jornalista científico Claudio Cordovil

Opinião de Claudio Cordovil, jornalista científico e mestre em Comunicação pela UFRJ

'Lamentável a tendenciosidade da referida matéria, de autoria de Ana Lúcia Azevedo, publicada em 'O Globo'. Quem se der ao trabalho de ler todo o relatório e informes por ela citados verá que a FAO (e não a ONU) já afirma no título de seu release sobre o mesmo que os transgênicos 'não são panacéia'. Por alguma razão, tal informação foi deliberadamente suprimida do texto da jornalista.
Além disso, o relatório aborda uma série de riscos potenciais, notadamente ambientais, em sua seção B, que sequer são mencionados na referida matéria. Quando são, só no pé da matéria. Seria como se eles de fato não importassem para os cidadãos.
Estudos sobre a comunicação de incerteza jornalística já revelaram que jornalistas tendem a suprimir as contingências (caveats) dos relatos científicos originais, na sua nobre missão de informar o público.
Assim, tudo que é ressalva a uma tecnologia, restrição ou limitação emitida por um cientista tende a ser suprimido no texto jornalístico de modo a que incertezas científicas fiquem bem ajustadas à apertada couraça do fato jornalístico. Afinal, incerteza cabe mal em três linhas de 15 toques.
É necessário que a SBPC realize um seminário urgente para jornalistas sobre a comunicação da incerteza científica inerente a novas tecnologias.
Mas, para isso, os cientistas mais positivistas deveriam primeiro admitir que a busca de certezas gera mais incertezas no caminho, que superadas levarão a novas certezas (e incertezas).
Os cientistas que trabalham com transgênicos, em sua grande maioria, só tem certezas, ao que parece, a julgar por sua participação no debate público.
Melhor estava a matéria sobre o mesmo tema em 'O Estado de S. Paulo'. Ali fica claro que a FAO criticava em seu relatório o fato de esta tecnologia só estar beneficiando até o momento os ricos (novidade!) e não necessariamente afirmava que ela é solução para os pobres ('não é panacéia'). Entre as duas afirmações, vai uma grande diferença.'

Fonte: Jornal da Ciência

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