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quinta-feira, abril 29, 2004

Rumor de cancelamento de compras no exterior ajuda a derrubar a soja

As perspectivas de que a China adote medidas para desacelerar seu crescimento econômico motivaram forte queda das cotações de algumas das principais commodities agrícolas negociadas no mercado internacional. A notícia soou mais preocupante no mercado de soja, já que a demanda chinesa, em forte elevação nos últimos anos, tem sido um dos principais sustentáculos dos preços externos. E gerou especial temor no Brasil, que tem no país asiático o principal destino das exportações do grão - que encabeça a pauta nacional de exportações.
No pregão de ontem na bolsa de Chicago, a notícia reverteu uma tendência de alta sustentada pela quebra da safra brasileira e as cotações fecharam em forte queda. Os contratos com vencimento em julho caíram 1,46% e encerraram a sessão a US$ 9,80 por bushel. Também influenciaram a queda rumores de que os chineses teriam cancelado navios de soja brasileiros.
Jack Scoville, vice-presidente da divisão de trading da Price Futures Group, de Chicago, disse que as notícias não foram confirmadas. Apesar disso, eventuais cancelamentos poderiam envolver também cargas de soja americanas. Um executivo de uma trading no Brasil disse que alguns clientes chineses já tentam adiar compras anteriormente acertadas para "empurrar" embarques.
Cauteloso, ele evitou relacionar o adiamento a uma tentativa da China de pagar menos pela soja. Mas observou que, "coincidentemente", no momento em que começa a receber cargas contratadas quando a soja estava mais cara do que hoje, a China passa a encontrar problemas sanitários no produto brasileiro. O executivo da trading se referia a dois navios provenientes do Brasil que estariam parados em portos chineses, impedidos de desembarcar. Inicialmente, autoridades locais disseram haver problemas com pesticidas, depois com fungicidas. Já Anderson Galvão, da Céleres, disse ter informações de que os navios estariam em quarentena como prevenção em relação à ferrugem asiática, doença provocada por um fungo.
Para os analistas, a queda nas margens de esmagamento de soja na China e a menor demanda por farelo devido à gripe das aves no país poderiam explicar a expectativa de que o país compre menos soja. Para Galvão, as margens estão sob pressão porque a China expandiu muito o setor de esmagamento, o que elevou a oferta. Ele não descartou que a indústria de soja da China esteja tentando "equacionar" seus problemas de margens derrubando preços da soja no exterior. "A China quer comprar facilidades", alfinetou.
Renato Sayeg, da Tetras Corretora, lembra que relatório da publicação especializada alemã Oil World já previa queda das importações chinesas no segundo trimestre. Até março, as compras totais chinesas somaram 9,44 milhões de toneladas, 24% mais que em igual intervalo de 2003, mas entre abril e junho, segundo a Oil World, as importações ficariam abaixo das 6,63 milhões de toneladas do ano passado.
O "efeito China" também derrubou os preços do açúcar e do algodão. Essas duas commodities são alvo de especulação no mercado nos últimos meses, uma vez que os chineses sinalizam forte interesse por esses produtos. No caso do açúcar, a tão esperada compra da China não ocorreu, mas os rumores de que isso vai acontecer foram suficientes para que os preços se sustentassem durante alguns pregões neste ano. No algodão, o governo chinês chegou a anunciar este ano aumento da cota de importação, provocando forte oscilação nos preços da commodity.
Ontem, os contratos do açúcar fecharam a 6,73 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York, com recuo de 5,3%. Antônio Augusto Duva, da Henmcorp Commcor, lembra que "outros fundamentos de demanda ainda sustentam os preços do açúcar" no mercado.
Para Fernando Martins, da Fimat Futures, a China exerce pressão tanto nas oscilações de baixa como nas de alta. "Se a moeda chinesa se valorizar com essas medidas econômicas implantadas pelo governo, o poder de compra das indústrias da China será maior para as commodities agrícolas", observou Martins.

Freada da economia chinesa pode prejudicar contas externas do Brasil
Um estudo dos economistas Marco Antonio Franklin e Elisa Pessoa, da Plenus, gestora de recursos, alerta para o fato de que um desaquecimento mais brusco da economia chinesa teria forte impacto sobre as contas externas brasileiras.
O superávit comercial no primeiro trimestre foi de US$ 6,7 bilhões, permitindo projetar um saldo comercial de US$ 30 bilhões para 2004. No entanto, esta receita poderia encolher até US$ 10 bilhões caso os chineses reduzissem suas compras de insumos nacionais, acarretando um retorno dos preços desses produtos aos níveis de 2002.
"Apesar de a China ainda dispor de instrumentos para lidar com o superaquecimento de sua economia e com as pressões inflacionárias, uma desaceleração mais forte do que o esperado pode custar caro à economia brasileira em termos de superávit comercial, fazendo com que o país volte a condição de deficitário em transações correntes", alerta Franklin.
"Isto somado a uma piora na liquidez internacional por conta do aperto monetário americano pode gerar pressões sobre câmbio e juros no Brasil", avalia ele.
A participação da China no comércio exterior brasileiro vem crescendo continuamente nos últimos três anos e tem valorizado os preços das commodities e ampliado o quantum exportado pelo Brasil.
Em 2003, o mercado chinês foi o terceiro principal destino das exportações brasileiras com 6,2% do total, o que corresponde a US$ 4,5 bilhões, com expansão de 80% em relação a 2002. Os principais produtos nacionais exportados para a China são farelo de soja, minério de ferro, aço, óleo de soja e autopeças.
A China importa cerca de 30 milhões de toneladas de soja, ou 15% dos 200 milhões de toneladas negociados no mercado mundial. Deste total, 16 milhões de toneladas são compradas pelo gigante asiático do Brasil. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) programa colocar 31 milhões de toneladas de minério de ferro no mercado chinês em 2004, equivalente a 19% de suas vendas desse minério.
Franklin e Elisa ressaltam em seu trabalho que a melhora das contas externas brasileiras se deu por conta dessa forte expansão do volume de exportações, que impactou também positivamente o preço das commodities, elevando o saldo da conta de comércio.
Em 2003, o preço dos insumos subiu 4,7% e, somente no primeiro trimestre deste ano, teve alta de 7,2%. Portanto, os economistas avaliam que uma redução no ritmo da demanda da China pode provocar um descasamento entre oferta e procura e consequentemente "um colapso" nos preços externos de produtos importantes na pauta de exportações do Brasil.

Setores serão afetados desigualmente
Os setores beneficiados pelas mudanças na Medida Provisória 164 foram divididos em três grandes grupos: o dos que terão alíquota zero da Cofins, mas não do PIS de 1,65%, tanto para os produtos importados, quanto para os nacionais; os que manterão o sistema cumulativo, em que a carga da Cofins é transferida para cada elo da cadeia produtiva; e os que arcarão com a nova Cofins mas receberão benefícios de outra natureza.
A manutenção do sistema cumulativo é vantajosa para os setores cuja cadeia produtiva é curta, já que neste caso a alíquota da Cofins é de 3%, ao passo que no sistema não-cumulativo é de 7,6%. Alguns setores, como a educação, já estavam beneficiados pelas mudanças feitas na medida provisória em sua tramitação na Câmara.
Mas outros ramos da economia em que a presença do setor de serviços é forte mantiveram o sistema cumulativo nesta rodada de negociações. A inclusão da construção civil entre os beneficiados só durará dois anos porque a equipe econômica entendeu que este setor precisa de incentivos imediatos. Foi o mal desempenho da construção civil no ano passado que fez com que a evolução do PIB caísse para abaixo de zero.
Outros setores beneficiados com a alíquota zero foram o de defensivos, fertilizantes, sementes e material genético para agropecuária; hortaliças , frutas e ovos; componentes para fármacos; material de exame clínico e algodão.
As indústrias instaladas na Zona Franca de Manaus serão beneficiadas com a zeragem da alíquota para os produtos que reexportarem, mas saíram parcialmente perdedoras nas negociações no Congresso. A versão inicial da medida provisória permitia que elas se creditassem do imposto pago, o que agora não será mais possível.
As indústrias que compram bens de capital, nacional ou importados, terão que arcar com a nova Cofins, mas ganharam uma das mais importantes concessões do governo. Poderão se creditar deste valor depois de quatro anos da importação ou compra. Atualmente, a aquisição de bens de capital só permite o crédito depois de dez anos.
Os representantes das cooperativas saíram das reuniões inseguros sobre o resultado final. Não conseguiram evitar a migração para a nova Cofins, mas receberam como contrapartida a isenção da Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a manutenção no texto da isenção do Imposto de Renda. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), comprometeu-se que o governo enviará uma nova medida provisória, sobre as cooperativas, dentro de três meses, caso fique comprovado que as cooperativas terão perdas com o novo sistema.
O benefício para a indústria de aerossol é um exemplo de concessão pontual: elas receberão isenção da Cide sobre o gás butano, produto usado para o spray. Este gás butano era taxado como combustível, o que estava levando os industriais brasileiros a migrarem para a Argentina.

Fonte: Valor Econômico

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