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terça-feira, março 16, 2004

Ibama libera licença para Embrapa testar pesquisa com feijão transgênico no campo

Plantio experimental será feito nas próximas semanas em Santo Antônio de Goiás, dentro da sede da Embrapa Arroz e Feijão

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu nesta sexta-feira, dia 12 de março de 2004, a Licença de Operação para Áreas de Pesquisa (LOAP) para que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, teste, pela primeira vez, a pesquisa com feijão transgênico no campo. O anúncio foi feito pelo presidente do Ibama, Marcus Barroso Barros, durante entrevista coletiva que contou ainda com a presença do secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Amauri Dimárzio; o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claúdio Langone; a diretora-executiva da Embrapa, Mariza Luz Barbosa; e os pesquisadores responsáveis pela pesquisa, Francisco Aragão (da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia) e Josias Faria (da Embrapa Arroz e Feijão).
A Licença autoriza a pesquisa em campo envolvendo feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) geneticamente modificado resistente ao vírus do mosaico dourado (Bean golden mosaic virus, isolado do Brasil), que é transmitido pela mosca-branca e é considerada a mais importante doença que ataca a cultura do feijão. O objetivo é avaliar amplamente os aspectos de biossegurança alimentar e ambiental da linhagem transgênica e obter dados iniciais de que não houve qualquer alteração (além das inseridas pelo novo gene) na cultivar modificada em relação à cultivar convencional.
Os testes serão feitos no campo experimental da Embrapa Arroz e Feijão, localizado em Santo Antônio de Goiás (GO), a 12 km de Goiânia. A LOAP é válida pelo período de três anos, a partir do dia 12 de março de 2004, e obriga determinadas condicionantes à Embrapa, como, por exemplo, manter medidas de segurança e biossegurança para prevenir o fluxo gênico; aumentar a freqüência das rondas de vigilância no local do experimento; e destruir posteriormente qualquer planta de feijão no local, seja OGM ou não, pelo processo de autoclavagem. A Embrapa fica também obrigada a desenvolver um projeto de educação ambiental sobre o feijão geneticamente modificado junto à comunidade local.
As condicionantes determinadas pelo Ibama foram consideradas satisfatórias pelos pesquisadores da Embrapa e "passíveis de serem cumpridas dentro de um projeto de pesquisa".
Mosaico dourado - O vírus do mosaico dourado é a pior doença da cultura do feijão, já que ocorre em quase todas as regiões brasileiras e pode causar perdas de até 100% na produção. A doença atinge principalmente a primeira safra de feijão anual, que vai de dezembro a fevereiro. Apenas as áreas de clima temperado é que estão livres deste vírus, porque não possuem as condições climáticas favoráveis à proliferação da mosca-branca, inseto-praga que é o seu principal vetor.
Em 1991, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a Embrapa Arroz e Feijão iniciaram a pesquisa para desenvolver plantas tolerantes a esta doença, empregando a metodologia de seqüência “anti-sense”, que consiste na introdução de um fragmento do vírus do mosaico dourado para bloquear o RNA do próprio vírus, o que funciona como uma espécie de “vacina”.
Segundo o pesquisador Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, esta metodologia possibilitou a obtenção de plantas de feijão tolerantes ao vírus do mosaico dourado, o que significa dizer que elas possuem os sintomas, mas de forma fraca. “O vírus conseguiu se reproduzir dentro da planta de forma ineficiente, tardiamente e com baixo índice de infecção”, explica Francisco. Este resultado ainda não foi o ideal para os pesquisadores, que buscaram então desenvolver plantas imunes à doença empregando a metodologia de transdominância letal, que consiste na introdução da replicase (proteína que replica o DNA viral) do vírus na planta.
Josias Faria, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, revela que as primeiras plantas transgênicas foram obtidas em 1999 e logo começaram a ser “desafiadas”, ou seja, expostas a moscas-brancas que possuem o vírus do mosaico dourado, tudo isso em casas de vegetação, cercadas de telas por todos os lados. Já foram geradas linhagens transgênicas de feijão preto, carioca e Jalo, todas testadas no período de 1999 a 2003.
RET - A LOAP determina que o campo experimental da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO) está em condições para realizar a pesquisa de campo, mas não autoriza o início dos trabalhos. Ela é apenas um dos documentos necessários para realizar a pesquisa de campo. É preciso ainda o Registro Especial Temporário (RET), emitido pelo Ibama, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Ibama e a Anvisa já realizaram, respectivamente, a avaliação ambiental preliminar e a avaliação toxicologica preliminar. Só falta o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento emitir agora o Registro - a previsão é de que seja feito nos próximos dias.
A Embrapa tem pressa em iniciar o plantio para aproveitar ainda o fim da primeira safra anual de feijão, quando a cultura sofre com a doença (devido à infestação da mosca-branca) e as condições ambientais ainda são favoráveis. De qualquer forma, os pesquisadores planejam infestar artificialmente o campo experimental para melhor testar o feijão transgênico.
Para o pesquisador Francisco Aragão, o domínio da tecnologia de transformação genética do feijão permite agora que outros genes possam ser inseridos e testados no produto, como, por exemplo, o gene de resistência à seca, cuja pesquisa já foi iniciada pela Embrapa. O feijão transgênico também contém resistência a geminivírus - técnica que poderá depois ser expandida para outras culturas.
Essa é a segunda licença concedida à Embrapa (a primeira foi a da pesquisa com mamão transgênico). "Em três anos teremos condições de fornecer à sociedade dados científicos sobre os impactos dos transgênicos no meio ambiente e para a saúde do consumidor, o que comprova que o setor público está preparado para acompanhar os avanços tecnológicos, respeitando os princípios da precaução", completou Aragão. O próximo produto transgênico da Embrapa a receber a Licença será a batata transgênica resistente ao vírus PVY (que causa o ralamento da folha), cujo projeto está sendo analisado pelo Ibama.

Mais informações:
Jornalista: Robinson Cipriano e Flávia Bessa Jornalista: Márcia Turcato
Assessoria de Com. Social da Embrapa Assessoria de Imprensa do Ibama
Telefone: (61) 448-4113 Telefone: (61) 316-1020 / 9968-9025

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