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quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Na agricultura, o fogo só traz prejuízos

Por Oscar José Smiderle e Daniel Gianluppi - Pesquisadores da Embrapa Roraima

Em primeiro lugar o produtor deve ter em mente que onde houver massa seca ou parcialmente seca existe uma possibilidade muito grande de ocorrer uma queimada ou um incêndio. Basta para isso uma fonte de calor como um fósforo, uma ponta de cigarro acesa que o fogo está iniciado.
Nas condições climáticas de Roraima, no período mais seco do ano, especialmente de janeiro a março, a vegetação está seca ou deposita sobre o solo grande massa de folhas e de galhos secos que ao primeiro fósforo iniciam uma grande queimada. Não há vegetação que resista ao fogo neste período, nem mesmo, a mata.
Portanto, a única maneira de não haver queimadas na propriedade, é um produtor consciente e preparado para combater o fogo. Sistemas de produção adequados para a região, áreas isoladas por aceiros, faixas limpas ou ainda queimadas com antecedência, para evitar queimadas generalizadas na propriedade, são soluções viáveis para o produtor.
Partindo-se do sistema broca-derruba-queima, o único fogo ainda necessário é o para abertura de área nova para cultivo. Depois da área aberta nada mais justifica o fogo, a não ser em pequenas manchas, pois daqui para frente, o fogo só traz prejuízos ao produtor que, tem a falsa impressão, que o fogo favorece a limpeza da área da roça e fertiliza o solo, melhorando o desempenho das culturas. Se houver necessidade absoluta do fogo em alguma parte da propriedade, essa queimada não deve ser feita no período mais seco do ano quando seu controle é impossível.
Agricultura sem fogo, portanto, depende do produtor. Mas como produzir sem fogo? Usando sistemas de produção que adicionem matéria orgânica ao solo, promovam sua cobertura e usando fertilizantes minerais orgânicos. Quem faz plantio direto já sabe da desgraça que causa uma queimada indesejada. É essa desgraça que o produtor tem de perceber quando promove uma queimada. Depois de perceber isso, com certeza ele vai batalhar para não haver mais queimadas.
O perigo do fogo é eminente quando se desenvolve o monocultivo em áreas potencialmente de risco, devido a grande formação de material vegetal pela cultura, bem como do seu manejo inicial para implantação desta. O uso do fogo repetido anualmente como prática natural do homem do campo, leva a vários problemas, como destruição da microbiota do solo, aumento da compactação, volatilização de nutrientes essenciais, destruição de inimigos naturais e outros, sendo o seu benefício, mínimo quando se relaciona a fertilidade do solo e desenvolvimento da cultura.
Como viabilizar sistemas de produção de culturas anuais sem fogo. Após a queima da área derrubada plantar arroz, milho, ou até soja. Entre as fileiras de milho plantar feijão caupi, se o período de chuvas permitir pode-se plantar até sorgo. Introduzir espécies de cobertura e de melhoria de solo como: guandu, crotalária, puerária ou calopogônio que protegem o solo do sol e da chuva, fixam e reciclam nutrientes e combatem as invasoras, formando um manto de massa seca sobre o solo. No período chuvoso seguinte plantar sobre esse manto vegetal, milho, mandioca, sorgo, se for possível usando uma adubação mínima. Acompanhar esses plantios com curiosidade e interesse. Verificar os melhores resultados e programar os próximos passos. Após dois ou três anos com esses sistemas o produtor vai dizer: fogo! Nunca mais.

Plantio Direto
É a tecnologia que mais está crescendo no país e consiste em plantar as lavouras sem fazer o revolvimento ou preparo do solo, como tradicionalmente se faz, e com a presença de cobertura morta ou palha. A essência é ter palha ou cobertura no momento do plantio. As vantagens são inúmeras: a palha contribui para diminuir a erosão do solo, aumenta a infiltração de água no solo e controla as plantas invasoras. Ela leva o produtor a proteger sua área para que não ocorra a queimada.

Utilizando melhor corretivos e fertilizantes
Pequenos produtores precisam se organizar em cooperativas e associações para juntos tocarem mutirões e adquirir uma série de melhorias, como corretivos e fertilizantes. Assim evitam melhor as queimadas e usam tecnologias que permitem uma agricultura sustentável. Agricultores organizados poderão ainda reivindicar melhorias do Governo, programas de fornecimento de calcário, tratores, fertilizantes etc. Usar corretamente corretivos e fertilizantes faz o solo ficar mais produtivo por um período de tempo maior. É uma técnica recomendável tanto para produtos cultivados na região (arroz, feijão, milho e pimentão) quanto para culturas nativas (frutas amazônicas, pimenta longa e guaraná).
Cabe ressaltar, entretanto, que esses sistemas não são imunes ao fogo, devendo ser protegidos dele. Como? Fazendo aceiros de proteção, queimadas estratégicas formando faixas limpas ao redor da roça. Essas queimadas devem ser feitas logo após as colheitas quando ainda não existe riscos desse fogo estratégico se propagar por toda a roça. Se a roça for grande, dividi-la em 2, 3 ou 4 partes. Com essa prática evita-se que o fogo acidental queime toda a roça, ficando isolado dentro da parte que surgir.

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