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terça-feira, fevereiro 10, 2004

A mamona que pode gerar emprego e renda

O conhecimento sobre o cultivo da mamona é empírico e a tecnologia empregada, antiquada. A força de trabalho é familiar, com predomínio de cultivares de baixo rendimento. Mecanização e irrigação são alternativas não utilizadas. A produção nacional é insuficiente para atender a demanda de óleo e derivados.
As pesquisas para utilização do óleo de mamona como biodiesel no Brasil estão em pleno desenvolvimento o que ampliará as possibilidades de utilização da mamona como cultivo para o agronegócio brasileiro.
Conceitualmente, o biodiesel é um combustível renovável, biodegradável e ambientalmente correto, sucedâneo ao óleo diesel mineral, constituído de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos obtidos da reação de transesterificação de qualquer triglicerideo com um álcool de cadeia curta.
A produção de óleo diesel a partir da mamona pode reduzir a importação de combustível, alem de promover inclusão social através da agricultura familiar. O Brasil importa 16% do diesel que consome, a custos superiores de 1 bilhão de dólares por ano.
O Brasil que já foi o maior produtor mundial de mamona e maior exportador de óleo vegetal oriundo da mamona, quando em 1985 chegou a colher 393.000 toneladas de bagas, posteriormente perdeu esta liderança por uma série de motivos e em 2003 produziu apenas 85 mil toneladas.
Na região nordeste do estado de Roraima encontra-se, aproximadamente, 1,5 milhões de hectares de cerrados aptos para a produção de grãos e culturas industriais como a mamona. As condições climáticas são apropriadas à exploração das culturas, com uma precipitação média anual de 1608 mm e temperatura média anual de 27,0ºC. Programas de melhoramento e de avaliação de cultivares são à base de um processo para implantação e desenvolvimento de uma cultura. Grande parte dos cultivos de mamona no País são realizados com materiais nativos ou não melhorados sendo este, provavelmente, o motivo dos baixos valores de produtividade obtidos.
A produtividade média da mamoneira em kg.ha-1, apresenta faixas variáveis: a nível nacional (600-900); na Bahia (300-600); no Mato Grosso (960-1560) e em São Paulo (1200-1800). Estas produtividades e suas variações são devidas a diferenças dos genótipos, modelos de produção adotados, manejo nutricional e épocas de semeadura.
Em 1999, foram realizados os primeiros estudos por meio de projeto para Roraima pelo pesquisador Alfredo Nascimento Junior e equipe. A planta apresentou bom desenvolvimento e crescimento vegetativo, atingindo em média de 700 a 1.800 kg.ha-1 sendo que alguns materiais produziram até 2.800 kg.ha-1 de bagas. A adubação foi realizada conforme necessidades da cultura. Os tratos culturais constaram de capinas quando necessários. Avaliou-se o rendimento de grãos, porte de planta, deiscência de grãos, incidência de doenças.
Melhores resultados médios foram obtidos em unidades de observação, conduzidas por três anos consecutivos, com um manejo adequado, em solos que possuem boa capacidade de retenção de água, característica dos solos de mata que apresenta maior teor de matéria orgânica, quando comparados com os de savana. O desenvolvimento dos genótipos foi bom, principalmente para os materiais de porte alto, que puderam expressar melhor seu potencial de rendimento. Contudo, em ensaios conduzidos no ano de 2000, com o cultivo em locais com melhores condições para o desenvolvimento da cultura obteve-se até 6.200 kg.ha-1 e em 2001 até 6.705 kg.ha-1, evidenciando o potencial de produtividade desta cultura em Roraima.
O plantio de cultivares comerciais de porte alto, em área de mata, em 2000, apresentou resultados de produtividade média (variação apresentada desde 795 a 2.061 kg.ha-1) superior as obtidas em 1999 e em 2001 para as seis cultivares em teste, dentre elas as cultivares Nordestina e Paraguaçu. Ainda assim, apresentaram bons índices de produtividade para as condições de mata no Estado, sendo superiores a média nacional.
A mamoneira pode ser uma alternativa para aquelas propriedades localizadas em áreas de mata (Mucajaí, Apiaú etc), de derrubada e que necessitam de um cultivo que se adapte melhor as condições características destes locais. Muitas vezes são áreas de difícil acesso, mecanização e para tratos culturais como capinas, irrigação etc., em que o cultivo de espécies de porte arbustivo como a mamoneira, são adaptadas.
A Utilização das variedades Paraguaçu e Nordestina, em area de transição savana/ mata no campo Experimental Serra da Prata em 1999, 2000 e 2001, apresentam um incremento de cerca de 75% na produtividade. Em 2002, cultivadas nos campos experimentais de Monte Cristo e Serra da Prata, resultaram, respectivamente, em produtividades médias de 1.967 kg.ha-1 a 4.150 kg.ha-1 e teores de óleo médios de 48,32 a 48,61% para a cultivar Nordestina e produtividades médias de 1.117 kg.ha-1 a 3.623 kg.ha-1 e teores de óleo médios de 49,64 a 48,20% para a cultivar Paraguaçu. Precisamos ainda reavaliar efeitos ambientais a fim de determinar de maneira mais acurada o trato cultural ótimo para a mamona na região do lavrado de Roraima.
Os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Roraima, no intuito de identificar genótipos de mamona que melhor se adaptem às condições edafoclimáticas de Roraima, que apresentem rendimentos elevados, com características de plantas adequadas a colheita manual e mecânica, e materiais com elevado teor de óleo, permitiram o desenvolvimento de tecnologia para o cultivo da mamona no estado de Roraima. O desafio se constituiu em desenvolver este cultivo, proporcionando novas opções de cultivo para os produtores rurais do Estado. Utilizou-se de materiais oriundos de vários locais do País onde se cultiva esta oleaginosa.
Estas tecnologias estão descritas detalhadamente nas publicações elaboradas dentro do sistema Embrapa de pesquisa (Nascimento Junior, 1999; Smiderle et al., 2001; Smiderle et al., 2002; Smiderle e Nascimento Junior, 2002; Smiderle et al., 2002b; Smiderle et al., 2002c). Especial destaque atribui-se para a indicação das cultivares BRS 149 Nordestina e BRS 188 Paraguaçu para cultivo em área de mata de transição que apresentam bom desempenho produtivo e teor de óleo próximo de 50%. Os trabalhos de pesquisa prosseguem no sentido de obter outras cultivares mais produtivas além de avaliações de materiais de porte anão que permitirão a colheita mecanizada. A mamona é hoje mais uma alternativa potencialmente rentável para produtores rurais em áreas de lavrado, alteradas/ degradadas e floresta.

Por Oscar José Smiderle
Pesquisador da Embrapa Roraima

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