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sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Fumicultores não entregam produto às indústrias e querem a prorrogação dos contratos de crédito por 90 dias

Pedido será oficializado na Câmara Setorial do Fumo na próxima terça-feira (17/02) pela CUT Nacional, Fetraf-Sul/CUT, MPA, Afubra, CNA e FAMIR. Empresas dizem que negociação acabou e ameaçam produtores com preços ainda mais baixos.

Há um impasse na comercialização do fumo da safra 2003/2004 no Sul do Brasil. De um lado, as indústrias fumageiras decretaram o fim das negociações de preço sobre a proposta de uma média de R$ 4,08 pelo quilo de fumo. De outro, os produtores não concordam e estão retendo o fumo nos galpões como forma de valorizá-lo e com o objetivo de melhorar essa negociação. Eles reclamam dos baixos preços desta safra (a média no ano anterior foi de pelo menos R$ 6,00 o quilo), do empobrecimento dos produtores em contraste aos altos lucros da atividade ao longo da cadeia produtiva e querem a retomada das negociações e a prorrogação por 90 dias dos contratos de crédito de custeio e investimento junto aos bancos financiadores. O pedido oficial está na pauta da próxima reunião da Câmara Setorial do Fumo, que acontecerá no dia 17/02 (terça-feira), às 9h, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Brasília-DF, e é assinado conjuntamente pela CUT Nacional, pela Fetraf-Sul/CUT (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul), pelo MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), pela Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil), pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e pela Famurs (Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul).
Menos de 10% do fumo produzido nessa safra foi comercializado até o momento. Para essa época, o normal seria que entre 20 e 25% do produto já estivesse sendo entregue e processado. Diante do impasse, paira sobre os fumicultores familiares a ameaça do vencimento, nos meses de maio, junho e julho, das parcelas de crédito para custeio e investimento na produção. Esse crédito é intermediado pelas indústrias, que têm status de avalistas dos contratos dos produtores. “Para efetuar o pagamento das parcelas, os fumicultores precisam negociar bem sua produção. Caso contrário, eles terão de arcar com prejuízos decorrentes dessa desvalorização do fumo, na forma que as empresas estão propondo”, informa o representante da CUT Nacional na Câmara Setorial do Fumo, Albino Gewehr.
Queda-de-braço – Segundo os produtores, as indústrias estão divulgando que, se eles não entregarem o fumo logo, correrão o risco de pagar mais caro pelos financiamentos, pois ficarão no final de uma fila, organizada pelas próprias empresas, de ordem de entrega dos produtos e isso atrasaria a quitação dos créditos tomados. Também justificam o preço baixo proposto aos fumicultores na expectativa de previsão de uma super safra (mais de 800 mil toneladas) de fumo no Brasil para este ano. Para a pesquisadora do Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais (Deser), Marilza Aparecida Biolchi, “não há justificativa para a queda dos preços, pois os estoques internacionais do produto estão baixos e esta safra mundial de fumo deverá ser ainda menor, de acordo com previsões do USDA (Departamento de Agricultura do Governo Americano) e da FAO (organismo das Nações Unidas voltado para a alimentação e o abastecimento no mundo).
Descontentes, os fumicultores participam de assembléias locais e regionais no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. “Mantemos firme a previsão de realizar grandes mobilizações, nas principais regiões produtoras de fumo dos três estados, nos dias 26 e 27 de fevereiro, para pressionar uma busca de solução a esse impasse”, comenta o coordenador de Formação da Fetraf-Sul/CUT, Marcos Rochinski, um dos responsáveis pelo processo de mobilização na entidade.
A região Sul, que responde por 95% da produção nacional de fumo, possui cerca de 180 mil famílias nessa atividade produtiva. Desse total, a metade está concentrada no Rio Grande do Sul, que abriga também o principal parque industrial de beneficiamento de fumo nos municípios de Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Vera Cruz.
No governo federal, diversas ações de regulamentação e políticas públicas voltadas para a cadeia do fumo estão dispersas em vários ministérios. Em 2003, o Governo Lula instalou a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Fumo, com a presença de representantes dos poderes públicos, da iniciativa privada e dos movimentos sociais, para garantir um maior controle social sobre estas políticas e ações, que estavam, até então, restritas à queda-de-braço entre empresas, produtores e consumidores.
Em 2003, o Brasil reduziu de 33% para 20% o contrabando de fumo, gerando um incremento na arrecadação de mais de um bilhão de reais. Os lucros de apenas uma das empresas do setor (a Souza Cruz, com patrimônio líquido na ordem de R$ 1,5 bilhão) têm crescido nos últimos anos, segundo dados de pesquisa do Deser. Passou de pouco mais de 634 milhões de reais, em 2001, para 961 milhões de reais em 2002. Entre janeiro e setembro de 2003, a empresa já somava um lucro de 613 milhões de reais, o que, mesmo sem apresentar os dados finais e diante da valorização contínua de suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo, desde meados do ano passado, aumenta as expectativas de que os lucros da empresa em 2003 atinjam, pelo menos, o mesmo patamar de 2002.
“Queremos que o reajuste nesta safra seja de, pelo menos, 53,3% a fim de cobrir a elevação dos custos de produção. Isso significa receber, no mínimo, R$ 6,00 em média pelo quilo do fumo”, reafirma Marcos Rochinski.


Jornalista: Thea Tavares (MTb 3207-PR).
Contatos: - Marcos Rochinski – Coordenador de Formação da Fetraf-Sul – (41) 9994-6478 ou (41) 232-4649; - Albino Gewehr – Representante da CUT Nacional na Câmara Setorial do Fumo – (51) 9663-7897; - José Silva – Representante da Fetraf-Sul/CUT na Câmara Setorial do Fumo – (47) 9955-5335 / 353-1424 / 352-1257

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