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terça-feira, fevereiro 10, 2004

A aposta da Monsanto nos transgênicos

Por anos, o Roundup, herbicida campeão de vendas da Monsanto, manteve-se como líder incontestável. Mas o quadro começou a mudar no outono [do Hemisfério Norte] de 2000, quando expirou a patente do produto nos EUA. Desde então, as vendas têm caído continuamente, apesar dos esforços da multinacional sediada em St. Louis de estabelecer uma política de preço mais competitiva com os fabricantes de imitações de herbicidas, e de convencer os agricultores a comprarem variações do produto original. No ano fiscal encerrado em agosto de 2003, as vendas da Roundup caíram para US$ 1,8 bilhão, ante US$ 2,5 bilhões vendidos no ano fiscal de 2001.
Os investidores, porém, provavelmente não precisarão entrar em pânico. Segundo analistas, a queda está se tornando mais moderada, ao passo que o outro segmento da Monsanto - sementes transgênicas - gerou US$ 1,9 bilhão no ano fiscal de 2003, 39% do faturamento total de US$ 4,9 bilhões da companhia e 22% mais que em 2002. Enquanto essa mudança avançar, os lucros também deverão aumentar.
O setor de sementes tem uma margem operacional de 16%, ante os 11% do Roundup e demais produtos químicos da Monsanto. Existem outros fatores que também operam a favor. Eventos recentes no Brasil e na União Européia deverão ajudar. Além disso, a direção da empresa manteve as expectativas do mercado em baixa. Isso porque, conforme o analista Frank Mitsch, da Fulcrum Global Partners, o CEO da Monsanto, Hugh Grant, "adotou uma mentalidade de contenção nas projeções e de superação nos resultados".
O mercado também considera positivo o fato de que a Monsanto poderá completar sua mudança para se concentrar principalmente em sementes agrícolas. Suas ações, negociadas a US$ 30 e alguns centavos, atingiu seu pico histórico em 52 semanas recentemente, em meio a um otimismo crescente de que a companhia atingirá ou superará sua meta de 10% de crescimento nos lucros anuais compostos em 2005 e 2006.
Já o crescimento no faturamento da Monsanto deverá ser fraco nos próximos dois anos - 2,1% em 2004 e menos ainda em 2005, quando poderá haver até queda, conforme avalia o analista Les Ravitz, da Morgan Stanley. Mas ele acredita que a receita operacional terá em 2004 forte aumento, de 24%, para US$ 584 milhões, com a ajuda de novos produtos e de cortes de custos. Depois disso, a alta nos lucros deverá cair, mas para ainda invejosos de 10% a 12%.
Ficar dentro dessas expectativas exigirá que os novos produtos da Monsanto alcancem crescimento vigoroso em vendas. Até agora, a demanda é mais forte para suas sementes "melhoradas", que incorporam múltiplas características desejáveis em uma única semente.
A porta-voz da Monsanto, Lori Fischer, informou que as vendas de sementes melhoradas tiveram alta de 132% de 2002 para 2003. Mesmo projetando a manutenção de vendas vigorosas nos próximos anos, ela se absteve de oferecer previsões específicas.
Os mercados internacionais também estão mostrando sinais promissores. Em janeiro, os agricultores do Brasil, que vinham pirateando as sementes da Monsanto, concordaram em pagar "royalties" pelo uso de suas sementes transgênicas de soja. E ministros da UE - que ainda resiste em liberar os organismos geneticamente modificados (OGMs) - declararam, também em janeiro, que considerarão permitir a importação de um milho transgênicos produzido pela suíça Syngenta.
A Monsanto também tem muitos produtos transgênicos em desenvolvimento. Entre os mais promissores estão as sementes resistentes à falta de água, nitrogênio ou frio. Elas deverão chegar ao mercado até 2008. Estão também em desenvolvimento sementes que podem produzir lavouras mais ricas em vitaminas. "Em termos mais amplos, a Monsanto só está começando a arranhar a superfície", afirmou McCarthy, da Banc of America Securities.
No longo prazo, com o aumento da participação das sementes no negócio, McCarthy avalia que a Monsanto "se assemelhará mais a uma empresa de biotecnologia" em termos de margens de lucros. Isso poderá significar um grande aumento em rentabilidade - empresas como Amgen e Genentech desfrutam de margens de lucro de 18% e 12%, respectivamente. McCarthy considera que o setor de sementes da Monsanto já pode ser avaliado mais como uma dessas firmas de biotecnologia.
Essas perspectivas vêm acompanhadas de riscos mais elevados. As sementes transgênicas foram adotadas nos EUA com pequena oposição. Mas a resistência continua sólida na Europa e mesmo no Brasil o cenário não está totalmente definido.
Além disso, a Monsanto tem passivos jurídicos potenciais relacionados a dívidas pertencentes à Solutia, uma unidade de produtos químicos falida que no passado esteve sob seu controle. E uma investigação sobre cartelização concentrada em torno das vendas de Roundup, conduzida pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, foi divulgada em março. São grandes riscos, que geram grandes dúvidas que, em breve, poderão começar a se dissipar.

Fonte: Valor Econômico

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