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quarta-feira, janeiro 21, 2004

Fazendeiros Gauchos, pagam até 200 dólares por saco de "supersementes" de soja

As aventuras genéticas dos produtores gaúchos resultaram em um equívoco que seria cômico, não fosse temerário. Nos últimos dois meses, dezenas de agricultores da região de Passo Fundo pagaram caro por uma suposta supersemente de soja, que pensavam produzir oito grãos por vagem - enquanto o normal são três. O detalhe: a planta não passa de montagem gráfica publicitária.
A Mireya RR, uma nova variedade desenvolvida pela multinacional Syngenta anunciada em um rodapé de uma edição do jornal argentino Clarín, em setembro, causou alvoroço entre os sojicultores gaúchos. A foto no jornal, encontrada por agrônomos passo-fundenses em uma viagem de turismo a Buenos Aires, exibe uma vagem de soja alongada, com oito grãos perfeitos.
Uma linha pontilhada corta a imagem na terceira semente com a indicação dos rendimentos até hoje. Uma flecha até o fim da vagem complementa: os rendimentos a partir da Mireya e da Picasa (outro lançamento da Syngenta). No texto do anúncio não havia qualquer referência aos oito grãos, apenas o registro do alto desempenho até 5 mil quilos por hectare em ensaios.
O anúncio foi fotocopiado em preto-e-branco e espalhou-se de mão-em-mão. Mesmo sem orientação técnica confiável, os agricultores encomendaram a semente a um antigo contrabandista uruguaio que forra a região com transgênicos desde 1996.(...)
A Mireya nada tem de milagrosa. Pelo contrário: seu ciclo é muito precoce e ela não é recomendada para o Rio Grande do Sul. Por telefone, o gerente de produtos da Syngenta na Argentina, Estanislao Sestak, afirmou que a supervagem é um desenho publicitário criativo para simbolizar a alta produtividade obtida ao sul da Província de Santa Fé e em Buenos Aires.(...)
Um revendedor, que pede para não ser identificado, calcula haver pelo menos 40 mil quilos de Mireya brotando nos arredores de Passo Fundo. Diz ter vendido 200 sacas a 100 dólares para dezenas de produtores. Sabe-se que alguns clientes repassaram para terceiros por até 200 dólares. Na Argentina, a mesma saca - legal - custa entre 15 e 16 dólares.
-- O desenho até enganava bonito, mas ficamos com o pé atrás. Só que o pessoal quis mesmo assim. É o risco que se assume por ter de trazer de lá - lamenta o comerciante.

Fonte: Zero Hora, Porto Alegre

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