No Brasil, as cólicas são as emergências mais comuns entre os eqüinos, na frente até mesmo dos traumatismos e dos ferimentos graves. Apesar de ser relativamente comum, esse distúrbio ainda causa muitos prejuízos para os criadores, principalmente devido ao custo do tratamento e ao grande número de vítimas fatais. A multiplicidade de causas, a complexidade dos casos e o alto índice de insucesso dos tratamentos, principalmente daqueles que demandam procedimentos cirúrgicos, são apenas algumas das dificuldades no combate à cólica.
Esse quadro motivou pesquisadores da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) a formar uma linha de pesquisa em gastroenterologia para estudar a cólica eqüina. Criada em 1995 e apoiada pela FAPEMIG, ela é, hoje, referência nacional sobre o assunto. O grupo conta também com a participação de professores e estudantes de outros estados que desenvolvem pesquisas na UFMG e depois retornam às universidades de origem com novos conhecimentos na bagagem.
A cólica eqüina é um distúrbio resultante de doenças que atacam o aparelho digestivo. Ela pode estar relacionada a vários fatores, que vão desde a produção excessiva de gás no estômago, resultado da fermentação dos alimentos, até a obstrução ou torção do intestino, o que requer a intervenção cirúrgica. Sua principal característica é a dor, que vai provocar uma série de mudanças no comportamento do animal. Ele pode, por exemplo, rolar e se jogar no chão sem maiores cuidados, suar em excesso, deitar e levantar constantemente ou ter dificuldades para caminhar. Esse modo de agir é chamado mímica da dor.
Devido a esse comportamento peculiar, perceptível até mesmo para um leigo, é fácil reconhecer um animal com cólica. Determinar a origem da dor, porém, é um desafio para os médicos veterinários. O diagnóstico rápido e preciso, fundamental para a sobrevivência do cavalo, é uma das maiores dificuldades porque os fatores que causam o distúrbio são muitos e variam de caso para caso.
A própria domesticação é um exemplo. Como explica o professor Alves, a cólica é rara entre os cavalos que vivem em seu habitat natural porque eles comem pequenas quantidades de alimento e percorrem grandes distâncias durante todo o dia. “A domesticação modifica esses hábitos, pois o cavalo passa a caminhar pouco e a ficar longos períodos em jejum, para depois se alimentar com ansiedade e compulsão. A maioria dos casos de cólica tem origem na alimentação irregular.”
Doenças parasitárias, qualidade da forragem e estresse ambiental são outros fatores que contribuem para o surgimento de problemas gastrointestinais, que se manifestam através da dor. A multiplicidade de causas dificulta também o tratamento. É necessário conhecer os sintomas, as mudanças recentes no manejo e o histórico do cavalo a fim de se descobrir a terapia mais adequada a cada animal. Na maioria das vezes, os casos são clínicos e podem ser solucionados com a ajuda de medicamentos. Existem aqueles, porém, que requerem cirurgia.
Apesar dos avanços alcançados com relação às técnicas anestésicas e cirúrgicas, a taxa de mortalidade permanece alta. Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, 20% dos casos de cólica eqüina exigem intervenção cirúrgica e, desse total, 70% dos animais não resistem à operação. Os dados são da década de 90, mas Alves acredita que esse índice ainda é válido para o Brasil, com a chance de nossas estatísticas serem ainda piores. “O prejuízo dos criadores é grande porque, muitas vezes, animais de grande valor zootécnico, que funcionam como reservas de material genético, são acometidos por cólicas fatais”, lembra o pesquisador.
Vários trabalhos desenvolvidos dentro da linha de pesquisa criada na Escola de Veterinária da UFMG buscam tratamentos mais eficazes para a cólica eqüina e o aprimoramento dos já existentes. O estudo do professor José Mário Girão, da Universidade Estadual do Ceará, é um exemplo. Como parte de sua tese de doutorado, ele pesquisou formas de amenizar os efeitos do processo de isquemia dos órgãos durante a cirurgia gastrointestinal. Isquemia significa a suspensão da circulação sanguínea. Quanto mais demorada a obstrução, mais tempo o órgão fica sem receber sangue e maior é a sua deterioração. Por isso, esse é um fator determinante do sucesso do procedimento.
O pesquisador é um dos que vieram de outro Estado para compor o grupo. Assim que concluir seu trabalho, ele voltará para a universidade cearense com a missão de divulgar novos conhecimentos e técnicas. “Isso não significa, porém, que o vínculo se quebra. O objetivo é que as duas instituições continuem a manter contato, trocando informações e experiências futuras”, ressalta Girão. O professor Alves também destaca a importância dessa rede nacional, que acaba se formando através do contato permanente entre os profissionais. Segundo ele, o objetivo é ampliar esse intercâmbio através do convênio com universidades internacionais.
A linha de pesquisa também promove eventos na área de gastroenterologia com o objetivo de treinar e reciclar os profissionais. Estes contam com o serviço de consultoria dos pesquisadores do grupo, que costumam responder perguntas por telefone ou e-mail. Através de veterinários mais capacitados, os benefícios chegam ao criador. Alves comenta que já é possível observar, por exemplo, uma mudança na alimentação fornecida aos animais. Se antes os cavalos comiam uma mistura de farelo e cana, a mesma usada no tratamento do gado bovino, hoje há uma preocupação com a qualidade da forragem. Além de diminuir a incidência da cólica, isso valoriza o plantel.
Para o professor Girão, a tendência de especialização dentro da medicina veterinária é um fenômeno recente, mas já proporciona frutos. No caso da gastroenterologia eqüina, objeto de estudo da linha de pesquisa da UFMG, os avanços são consideráveis e podem ser avaliados pelo número de artigos, dissertações de mestrado, teses de doutorado, além de trabalhos apresentados e publicados internacionalmente, que se originaram do grupo. Recentemente, seis trabalhos desenvolvidos dentro da linha e financiados pela FAPEMIG foram apresentados no 8.º Congresso Internacional da World Equine Veterinary Association, realizado na Argentina no mês de outubro.
Uma personagem fundamental para o desenvolvimento destas e de outras pesquisas do grupo é o Centro Cirúrgico para animais de grande porte da Escola de Veterinária. Utilizado nas aulas práticas da graduação e pós-graduação, na pesquisa e na extensão, ele é considerado, hoje, um dos mais modernos do país. O professor Alves enumera os motivos. O Centro possui circuito interno de TV, mesa hidráulica que pode ser ajustada de acordo com as necessidades do cirurgião, equipamentos que monitoram o paciente enquanto estiver anestesiado e um trilho que corre por todo o teto, permitindo que o cavalo seja transportado sem esforços até a mesa de operações. Na maioria dos outros centros, o animal precisa ser arrastado.
No Centro Cirúrgico, os veterinários operam desde cavalos estimados em 500 mil dólares até animais cujos proprietários não podem arcar com as despesas. Quando isso acontece, uma equipe de profissionais avalia as chances de sucesso da cirurgia e a importância do eqüino, como meio de subsistência, para aquela família. Muitas cirurgias são realizadas de graça, o que só é possível com a ajuda da iniciativa privada. Alguns laboratórios, por exemplo, contribuem fornecendo medicamentos.
Fonte: Revista Minas Faz Ciência
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